terça-feira, 25 de setembro de 2018



25 DE SETEMBRO DE 2018
CARPINEJAR

Mania de grandeza da dor

Não há maior megalomania do que o sofrimento. É necessário cuidar com a mania da grandeza da dor - ela não tem limites. Pode perder a régua da realidade e passar a achar que ninguém sofre tanto quanto você.

Assim sendo, ninguém será capaz de entender a sua angústia. Assim sendo, ninguém tem condições de ajudá-lo. Assim sendo, é insuperável e insubstituível em seu padecimento.

Tranca-se no quarto escuro, fecha amizades, esconde-se do convívio para compor um cenário de exclusividade do mal-estar.

Sente-se o pior de todos, que é uma forma indireta de se sentir melhor do que os outros. Pois se considera tão bom que pensa ser o único a enfrentar aquelas experiências negativas (sem perceber que o desencanto e a infelicidade são absolutamente comuns).

Sentir-se o pior de todos é uma onipotência invertida. Não deixa de ser uma perigosa vaidade. Agirá como um Napoleão das lágrimas, um faraó das tumbas, um mártir do abandono.

Aumenta a dor para se diminuir, em vez de se fortalecer para enfrentar a dor. Põe na cabeça que é a vítima do destino e foge da comparação e do contato com quem realmente sofre. Perde os parâmetros do cotidiano. Carece de empatia para enxergar ao lado e ver desigualdades mais sérias.

Transforma o desemprego em perseguição, transforma um amor perdido em solidão perpétua, transforma um acidente em hecatombe. Exagera nas emoções para baixo. Percebe dissabores provisórios como fatalidades definitivas. Soma incidentes aleatórios para justificar uma paralisia psicológica.

Tudo é fracasso - essa palavra que deveria ser economizada e usada com parcimônia. Confunde decepção e frustração, normais para qualquer um, com fracasso. E sofre desproporcionalmente por situações simples, como se fosse sempre a morte de um familiar ou a descoberta de uma doença séria.

Saúde é saber reclamar aos poucos, aos goles, e logo se recuperar. É ter um aborrecimento e seguir adiante. Não render conversa demasiada para as dificuldades. É entender que adversidades sempre acontecerão e não há motivo para entrar no luto a qualquer instante.

CARPINEJAR