sexta-feira, 28 de setembro de 2018



Dá para salvar a democracia? 

Democracias tradicionais estão em colapso? Essa é a grande questão que dois conceituados professores de Harvard, Steven Levitsky e Daniel Ziblatt, respondem em sua recente obra Como as democracias morrem (Editora Zahar, 272 páginas, tradução de Renato Aguiar e prefácio de Jairo Nicolau), publicada nos Estados Unidos da América em janeiro deste ano. A obra mereceu grandes elogios da crítica, é sucesso de público e figura como best-seller do The New York Times. 

A pergunta gigante surge no momento em que se discute o modo como a candidatura e a eleição de Donald Trump se tornaram possíveis. Os autores confrontam a situação de Trump com rupturas democráticas emblemáticas da manipulação do sistema eleitoral no Sul dos Estados Unidos no século XIX aos casos contemporâneos de Hungria, Turquia e Venezuela, passando pela Europa dos anos 1930 e as formas distintas de ditaduras de Pinochet, no Chile e Fujimori, no Peru. 

A ascensão de Hitler e Mussolini, a onda populista de extrema-direita na Europa e as ditaduras militares dos anos 1970 na América Latina são analisadas, num painel dos rompimentos da democracia destes últimos 100 anos. Steven e Daniel passaram os últimos vinte anos estudando o colapso dos regimes democráticos na Europa e América Latina e em seu livro oferecem uma análise alarmante do processo de subversão da democracia que ocorre hoje nos Estados Unidos, a partir da eleição de Trump. 

Os autores mostram que as democracias atualmente não terminam com uma ruptura violenta, nos moldes de uma revolução ou golpe militar e, sim, com o lento e constante enfraquecimento de instituições críticas - como o judiciário e a imprensa - e a erosão gradual de normas políticas de longa data. A obra foi considerada pelo The Philadelphia Inquirer como o grande livro político de 2018 e o The New York Times a chamou de guia lúcido e essencial. 

Nosso O Estado de São Paulo disse que o livro é essencial para entender a política atual, e alerta os brasileiros sobre os perigos para a nossa democracia. É verdade, as histórias presentes no livro nos são, infelizmente, bastante familiares e é preciso aprender com os erros e acertos dos outros, para não ficar repetindo experiências desastrosas. Aí dá para pensar em salvar a democracia, ou, ao menos recriá-la e adaptá-la para nossos dias. 

Lançamentos 

A arte de tratar - Por uma psicanálise estética (Artmed, 184 páginas), do consagrado e premiado escritor, médico comunitário, psicanalista e professor Celso Gutfreind, traz belos e profundos textos, fruto de incontáveis pesquisas e leituras, sobre arte pictórica, escultórica e narrativa, envolvendo Freud esteta e a ciência de sua psicanálise. 

A obra situa-se, com muita sensibilidade e inteligência, justamente entre a arte e a ciência, lembrando que a psicanálise é uma artística ciência. Escolas Italianas no Rio Grande do Sul - Pesquisas e documentos (Educs,160 páginas), dos professores universitários e pesquisadores Gelson Leonardo Rech e Terciane Ângela Luchese, da Universidade de Caxias do Sul, na serra gaúcha, narra a história das escolas, apresenta uma reflexão metodológica sobre o tema e transcreve documentos primários. A obra contribui com os estudos em História da Educação e traz tema injustamente pouco tratado pelos estudiosos da imigração italiana. 

O amor é uma festa (Buqui, 56 páginas) da escritora feminista e humanista Ms. Marinez Full, com capa e ilustrações de Chana de Moura e apresentação do jornalista e escritor Léo Gerchmann, traz textos poéticos e comoventes escritos por crianças sobre casamentos e famílias homoafetivos, amor, irmãos e convivência. A obra traz uma visão extremamente humana e rica sobre as novas e diferentes relações que estão aí. Segundo o IBGE, mais de 50% das famílias atuais não são nucleares. - 

Jornal do Comércio (https://www.jornaldocomercio.com/_conteudo/colunas/livros/2018/09/649880-da-para-salvar-a-democracia.html