sexta-feira, 17 de janeiro de 2020



17 DE JANEIRO DE 2020
DAVID COIMBRA

Ilusões perdidas

Balzac era bom de título. Um predicado importante, pode ser decisivo para a carreira de um livro. A Mulher de 30 Anos é um título genial, melhor do que o romance que lhe segue, tão sugestivo que gerou o adjetivo "balzaquiana". A gente lê o título e fica pensando no que Balzac vai dizer a respeito da mulher de 30 anos, que, no século 19, era considerada uma loba. Hoje, não. Hoje é considerada uma gatinha.

A propósito, li dias atrás uma notícia acerca de um mexicano da cidade de Vera Cruz que teve uma ereção de três dias de duração por tomar Viagra para touro a fim de ser bem sucedido numa relação sexual que teria com uma mulher, justamente, de 30 anos. A reportagem não deu muitos detalhes sobre o homem, informou apenas que ele é "de meia-idade". Quanto seria isso? Quarenta anos? Cinquenta? De qualquer modo, ele passou mal devido ao priapismo e precisou ser submetido a cirurgia no hospital local.

Repare que, na notícia, a juventude da mulher é tratada como a motivação da ingestão do tal Viagra para touro. Ele queria impressioná-la com uma atuação histórica. Terá conseguido? Espero que sim, esse mexicano é um devoto do amor.

Outro título perfeito de Balzac é Ilusões Perdidas. Este romance é melhor do que A Mulher de 30 Anos, talvez seja o melhor da imensa produção de Balzac. Faz jus ao título que tanto toca o coração do leitor. Porque, afinal, quem não teve suas ilusões e terminou por perdê-las melancolicamente neste Vale de Lágrimas?

Esse é um processo que todos enfrentamos na vida e que pode ser positivo, por levar ao amadurecimento, ou péssimo, por levar ao cinismo. É o que me preocupa em relação ao Brasil. Porque, mais do que todas as outras nações, o Brasil é o país das ilusões perdidas.

Quantas esperanças se esboroaram nesses anos todos? É que talvez nós brasileiros sejamos como o personagem de Balzac. Talvez nós sejamos ingênuos. Acreditamos demais na capacidade dos líderes de resolver os nossos problemas.

É uma frase que ouço sempre: "Precisamos de um líder!" Na verdade, não precisamos. Diria até que nada seria melhor, para o Brasil, do que um não líder como próximo presidente. Um homem sem carisma nenhum, sem ideias originais, sem planos grandiosos, um homem sem imaginação, que apenas fizesse as coisas do jeito que se espera que sejam feitas. Um homem? normal. Seria perfeito. Sua presença amorfa na Presidência apaziguaria os ânimos, acomodaria os radicais, faria o Brasil ter um pouco de paz. Como precisamos de um pouco de paz.

Um homem comum como próximo presidente. Nem feio nem bonito, nem inteligente nem burro. Um homem que não chamaria a atenção em lugar algum em que entrasse. Um homem sem graça. Que fizesse tudo sempre igual. É pedir demais?

DAVID COIMBRA

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