terça-feira, 21 de janeiro de 2020



21 DE JANEIRO DE 2020

CARLOS GERBASE

Minha feminista predileta

Tento aprender cada vez mais sobre os feminismos. Faço isso em casa, ouvindo e debatendo com minhas três filhas. Amplio a discussão na universidade com minhas alunas. E, é claro, dentro de minhas possibilidades, leio as autoras contemporâneas, que são muitas e têm ideias às vezes bem contrastantes. Admiro o trabalho pioneiro de Laura Mulvey na área audiovisual, me diverti horrores com as teses anarquistas, mas sempre coerentes, de Paul B. Preciado (que já assinou como Beatriz Preciado), e sei da importância de Judith Buttler, recentemente hostilizada de forma covarde quando visitou o Brasil. Preciso me dedicar mais às feministas brasileiras, que já criaram uma sólida bibliografia e têm contribuído muito para o debate. Haja tempo e haja óculos de leitura.

Minha feminista favorita, contudo, ainda é Camille Paglia. A lúcida e sensacional entrevista que ela deu para Gunter Axt em meados de 2019 me levou a percorrer com voracidade sua obra, que demonstra uma grande erudição no campo das artes plásticas. Leio agora Imagens Cintilantes: uma Viagem através da Arte, desde o Egito a Star Wars, uma introdução brilhante e acessível à história da arte. 

Li boa parte de Vampes e Vadias e espero um dia ter a oportunidade de me dedicar com seriedade a Personas Sexuais: Arte e Decadência de Nefertite a Emily Dickinson, um monumento de 616 páginas com letras bem pequeninhas. As teses de Paglia com certeza estão bem distantes de um feminismo hostil aos homens. Ela os quer como aliados, e não como inimigos, e aí as ásperas contendas do famoso lugar de fala se acendem e provocam incêndios de proporções australianas. Não vou entrar nessa.

É tempo de encontrar pontos de quase consenso, em vez de potencializar atritos. Mas quem discorda das frases a seguir, retiradas de Imagens Cintilantes?: "O único caminho para a liberdade é a educação de si mesmo para a arte. Para qualquer civilização avançada, a arte não é um luxo - é uma necessidade sem a qual a inteligência criativa definha e morre. Mesmo em tempos de economia conturbada, o apoio à arte deveria ser um imperativo nacional". Obrigado, Camille. Não importa o sexo e o gênero de quem lê: ainda há verdades acima de confrontos estéticos e ideológicos. Os atuais governantes brasileiros, infelizmente, não apreciam amontoados de palavras escritas. E aí não tem santo que salve. Eles morrerão gostando de outros tipos de amontoados.


CARLOS GERBASE

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