segunda-feira, 27 de novembro de 2017



DAVID COIMBRA

A mulher mais bonita do mundo

Dizem que o debate de ideias sempre faz crescer. Tenho minhas dúvidas. Porque o debate de ideias só faz crescer quando as ideias são debatidas, não os debatedores.
Você já viu alguém debater ideias sem debater o debatedor?

Há casos até de quem se recuse a debater a ideia do outro simplesmente porque se acha encarapitado em um nível de superioridade moral inatingível pela ignorância de quem não concorda com ele.
O sujeito tem tanta certeza da correção de suas ideias, tanto orgulho de ser quem ele pensa que é, que não consegue sequer admitir que o outro esteja apenas errado. Não: o outro, aquele que não concorda com ele, tem de ser mal-intencionado. Ele é tão bom, tão maravilhoso, tão espetacularmente inteligente, que quem pensa diferente dele só pode ser um canalha.

Isso faz com que a gente ande em círculos. E aborrece profundamente. Chega um momento em que só de pensar em "debater ideias" me dá sono. Que importa argumentar nesta ou naquela direção? Não fará diferença alguma. Ninguém vai mudar um centímetro em nenhuma direção, ninguém se deixará convencer.

Então, prefiro falar da Irina Shayk. Descobri que a Irina Shayk é a mulher mais bonita do mundo. Você dirá que isso é questão de gosto, que há muitas mulheres lindas por aí e tal. Mas não. Irina Shayk é como Pelé: incontestável. Vá lá ao YouTube, ao Google, e veja. Você dirá:
- É mesmo a mulher mais bonita do mundo.

Mas talvez você considere que dizer que uma mulher é bonita é sexismo, ou machismo, e reclame que as mulheres têm de ser valorizadas pela sua competência, não por sua beleza. Não argumentarei. Estou num dia em que debates me cansam, lembra?

Falarei de outra coisa. Sobre uma picanha que faço, por exemplo. É bem simples. Escolho uma picanha de bom tamanho. Pico, em pedaços minúsculos, mínimos mesmo, quatro ou até cinco dentes de alho. Podem ser seis. Não passam de sete. No máximo, oito. Em seguida, uso o dedo para introduzi-los em vários pontos da carne. Deito-a em uma forma. Cubro-a completamente de sal grosso - vai um saco inteiro de sal. E boto no forno. Depois de uma hora, tiro a picanha, bato o sal como se estivesse espancando um daqueles caras que não concordam comigo. E está pronto.
Delícia, delícia, assim você me mata.

Mas talvez alguém aí seja vegano e comece a discorrer sobre os males da carne vermelha e diga que quem publica uma receita com carne é irresponsável. Não responderei (hoje não tem debate). Falarei de pontas.

Houve um tempo em que o ponta tinha prestígio. Garrincha ganhou uma Copa sozinho, Renato conquistou o mundo para o Grêmio, o Inter tinha Tesourinha e Carlitos, depois Valdomiro e Lula, e havia Nei no Palmeiras, Canhoteiro no São Paulo, Edu no Santos. Por que os ponteiros, sobretudo os ponteiros-esquerdos, foram banidos do futebol?

Respondo: por covardia. Os técnicos, por medo de perder, tiraram o ponta agressivo, agudo, insinuante e, no lugar dele, escalaram volantes brutos. O Grêmio tem um ponta da velha estirpe: Éverton. No último jogo, tendo pouco tempo, pouco participou. Mas, em um lance, Éverton mostrou como está pronto para ser titular: estava encurralado na ponta, de costas para a bandeirinha de escanteio, o marcador a um passo dele. 

Não tinha como passar, não tinha como sair dali, ia perder a bola. Então, deu um toquinho para a frente, a bola bateu na canela do adversário e escorreu pela linha de fundo. Escanteio para o Grêmio. Um lance simples, mas um lance de quem sabe. Éverton está no ponto. Éverton é ponta-esquerda. Éverton pode decidir um campeonato. E espero que não haja debate ideológico quanto a isso.
DAVID COIMBRA