terça-feira, 28 de novembro de 2017



28 DE NOVEMBRO DE 2017
CARLOS GERBASE

OS SERES MINÚSCULOS

Há uma perigosa confusão semântica nos debates políticos que sacodem o Brasil. É claro que essa confusão é diariamente alimentada por quem gostaria de tomar posse do Estado a partir de uma posição temporária no governo. É assim mesmo: Estado, com E maiúsculo, porque estou usando a palavra para designar a nação brasileira, com sua estrutura política e sua Constituição; e governo, com g minúsculo, um grupo de pessoas que, vencedor de uma eleição, está habilitado a conduzir as questões políticas e administrativas dentro das normas legais por alguns anos.

Isso vale para todas as instâncias: municipal, estadual e federal. É muito triste ver o prefeito de Porto Alegre e o governador do Rio Grande do Sul alimentarem diariamente um conflito aberto com os funcionários públicos, alguns com dezenas de anos de serviço, como se eles fossem entraves ao bom funcionamento da cidade e do Estado. 

Esses funcionários - professores, burocratas, motoristas de ônibus, médicos - fazem funcionar tudo que nos cerca e depende de ações públicas. Esses funcionários não estão apenas a serviço do Estado. Eles são o Estado. Com toda justiça, quando percebem que um ser minúsculo pretende mudar regras constitucionais, lutam e batem sinos.

É mais triste ainda ver um presidente minúsculo, que assumiu o governo de forma tortuosa e está sob permanente suspeita de corrupção, traçar estratégias para mudar o Estado - as reformas trabalhista e da previdência são os exemplos mais evidentes - a partir de acordos com seres ainda menores, deputados e senadores que se relacionam com o Estado como uma pulga se relaciona com um cachorro. O Estado não é um ser imutável. Mesmo com E maiúsculo, está sujeito à dinâmica da História e aos ajustes necessários. 

É óbvio que os governos têm dificuldades orçamentárias. No entanto, esses seres minúsculos que hoje andam por aí com ares de autoridade não podem apontar soluções que, em vez de aprimorar o Estado, pretendem apequená-lo. Tem lógica: seres minúsculos querem um estado mínimo. Nas próximas eleições, mais importantes que as questões morais são as questões que envolvem o Estado brasileiro. Ele deve continuar com E maiúsculo ou submeter-se aos seres minúsculos?

CARLOS GERBASE