quinta-feira, 30 de novembro de 2017


30 DE NOVEMBRO DE 2017
DAVID COIMBRA

Gays. Negros. Lula. Pedofilia. Campeão


Homossexuais. Lula. Moro. Loiras. Bolsonaro. Negros. Mulatos. Anões. Mulherzinha. Temer. Lésbica. Lava-Jato. Foi golpe. Não foi golpe. Dilma. Work alcoolic. Bolsomito. Bolsominions. Pedofilia. MBL. Sexo. Sexo. Sexo. Sexo. Dinheiro na cueca. Provolone na cueca. Biscoito na cueca. Cueca. Calcinha. Sem calcinha. Sexo. Mala. Dinheiro na mala. Mala de dinheiro. Malas. Cunha. PT. Comunistas. Liberais. Bonner. Fátima. Trump. Privatizações. Greves. MST. Maduro. Cuba. Sexo. Sexo. Sexo. Sexo.

Achei que, fazendo uma reunião de temas palpitantes, conseguiria a sua leitura, mesmo sem escrever sobre o jogo do Grêmio contra o Lanús. É que não posso escrever sobre o jogo do Grêmio contra o Lanús, não agora - agora são 9h45min da manhã na costa leste dos Estados Unidos. Com o fuso horário, diferença de três horas para menos, faltam nove para a partida, e tenho que entregar o texto até a tarde.

A questão é que, hoje, as pessoas só vão ler sobre a finalíssima. Quem vai se importar com a reforma da Previdência, com as leis trabalhistas ou com a eleição de 2018 se houve uma decisão de Libertadores na véspera?

É o que digo sobre decisões. Aquele campeonato mixuruca, vencido por um time mixuruca, o Campeonato Brasileiro, não tem decisão. Campeonato sem decisão é o dia a dia, é a lua tomando o lugar do sol a cada entardecer, é acordar para ir ao trabalho todas as manhãs, é deitar-se para dormir todas as noites, são as terças que sucedem as segundas e as quintas que sucedem as quartas, é a rotina, é a aposentadoria, é passar o domingo de pijama, é a vida comezinha de tantos seres humanos comuns que já passaram pelo planeta Terra. Cientistas calculam em 100 bilhões o número de pessoas que já viveram, contando as 7 bilhões que ainda respiram debaixo do sol. Quantas dessas deixaram sua marca no mundo?

Pense em Júlio César, Napoleão, Maomé, Jesus, Freud, Cleópatra, Leonardo da Vinci, Michelângelo, Beethoven, Mozart, Pelé, Ellen Roche, gente que fez diferença, pessoas que serão lembradas pela eternidade. Eles são a decisão, eles são a finalíssima.

Agora pense naquela senhora sua vizinha, que mora no 302 e de quem você não lembra o nome. Ela e outros bilhões de Homo sapiens são os pontos corridos.

É assim a vida.

Infelizmente, esse é o raciocínio de muitos desmiolados que cometem atrocidades. Eles querem ser lembrados, nem que seja por sua extrema maldade. É a lógica daquela pessoa estranha que mora no Canadá, se diz socialite e vai às redes sociais para produzir abjetas manifestações racistas e insultar crianças. Há muitos tipos assim, capazes de fazer as maiores estultices para que os outros falem deles. Para dar sentido às suas vidas. Mas assim, não. Assim é melhor nem ter existido. É melhor ser pontos corridos.

Este é o pensamento correto, é desta forma que tem de ser. Fazer polêmica é fácil. Para chamar atenção, basta falar alto. Mas, para valer a pena abrir a boca, você tem que ter algo realmente interessante a falar. Caso contrário, melhor ficar quieto. O silêncio nem sempre é falta do que dizer. É a dignidade de quem prefere calar.

DAVID COIMBRA