segunda-feira, 17 de agosto de 2020


17 DE AGOSTO DE 2020
DAVID COIMBRA

O Grêmio tem de gastar


O Grêmio do ano da peste é quase igual ao de tempos mais amenos, mas parece que perdeu algo... O que será que foi mesmo? Ah, já sei: foi o Everton! Quer dizer: o Grêmio de agora tem cerca de 50% a menos de poder de fogo. Everton era tudo isso, senão mais. Pepê é bom jogador, mas não é e nem será um Everton. Quem haveria de ser, no futebol brasileiro?

O que quero dizer é que o Grêmio piorou, e piorou muito. Para vencer, terá de aumentar os níveis de agressividade do seu ataque. E não vai adiantar buscar veteranos, apostando na capacidade mágica que Renato tem de motivá-los.

Romildo terá de fazer algo de que não gosta: terá que gastar algum dinheiro. O Grêmio precisa de atacantes efetivos e com vontade de vencer. Não é mercadoria barata. O sucesso nunca é barato.

O fato que antecipou a mudança no Brasil

A dor do outro não deve ser subestimada. Porque não existe medida para o sofrimento. O que para o mundo é "motivo fútil", para um indivíduo pode ser o desespero.

Às vezes, quando a pessoa resiste à angústia e vai em frente, o mal passa. Então, ela olha para trás e, do alto da perspectiva histórica, se admira:

"Como pude sofrer tanto por isso?" O amigo conselheiro, o pai vigilante e o psicanalista dedicado têm essa função: de fazer com que você se veja de fora para dentro, como se fosse outra pessoa. Mas isso não é tão fácil. É preciso autocrítica, e quase ninguém tem autocrítica.

Você pode observar essas "coisas do mundo", como diria o Paulinho da Viola, analisando algumas ocorrências do futebol. Eis a razão da popularidade deste esporte. Cada jogo é uma história, cada time é um personagem - o futebol é uma alegoria da vida.

Fiquei encantado com o episódio dos 8 a 2 que o Bayern aplicou no Barcelona. Por que um dos clubes mais poderosos do planeta vai à falência dessa forma? O que houve para que jogadores milionários e bem-sucedidos se desconcentrassem tanto e se submetessem ao adversário praticamente sem reação? Aí é que está: quando um time grande é goleado, as razões sempre são mais emocionais do que técnicas. Deve ser interessante perscrutar que dores andam afligindo o Barcelona.

Lembro dos 7 a 1 da Copa. O Brasil estava estraçalhado emocionalmente. Os jogadores choravam na execução do Hino Nacional, havia um clima de comoção patriótica em cada partida e uma confusão de sentimentos. Alguns gritavam "não vai ter Copa!", outros se ufanavam do seu país, e os jogadores em meio a isso tudo, olhando para os lados, perplexos, sem saber o que pensar. O 7 a 1 foi uma consequência do ambiente. Não foi um resultado de jogo. Foi um resumo de tudo em que se transformaria o Brasil. Foi o fato que antecipou a nossa realidade amarga.

Desde então, estamos mais do que divididos; estamos descontrolados. Os brasileiros rapidamente foram perdendo o respeito uns pelos outros. A ofensa é fácil, a crítica agressiva é norma. A falta de educação é considerada espontaneidade, o insulto virou sinônimo de coragem e a calúnia se transformou em instrumento político. Vendo, todos os dias, as manifestações nas redes sociais e em grupos de WhatsApp, estremeço de horror, me decepciono com meus irmãos brasileiros e sinto vontade de me fechar com meus amigos, meus livros, meus discos e nada mais.

Os 7 a 1 da Copa foram apenas um prenúncio. Estamos sendo goleados todos os dias.

DAVID COIMBRA

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