segunda-feira, 24 de agosto de 2020



24 DE AGOSTO DE 2020
DAVID COIMBRA

O que farei quando a vacina chegar. As pessoas estão bebendo mais vinho por causa do isolamento social. Vi isso nas notícias. Em compensação, as vendas de champanhe caíram. É que champanhe, com todas aquelas bolhas, é bebida de festa, e as pessoas estão mais comedidas na pandemia. Se, por acaso, fazem festa, evitam brindes ruidosos. Então, vinho.

A propósito, esse interdito de usar a palavra champanhe para se referir à champanhe, quero dizer que não o aceito. Não falo "espumante", até porque a champanhe não produz espuma, ela borbulha. Prefiro o termo em inglês. Eles dizem "sparkling". Spark é faísca e a champanhe faz isso mesmo, corusca como fogos de artifício. Não é à toa que o bom monge Dom Pérignon, ao inventar essa bebida tão expansiva, gritou para seus colegas monges:

"Venham todos! Estou bebendo estrelas!".

Portanto, continuarei dizendo champanhe. E não é nem "O" champanhe, como pregam alguns. É "A" champanhe, porque essa é uma bebida definitivamente feminina, tão feminina, que seu grande divulgador na França, o rei Luís XV, usou o seio da sua amada para criar uma taça adequada para bebê-la.

Sério. Luís XV ordenou que os artesãos reais tomassem o seio esquerdo de Madame de Pompadour como molde para fazer a primeiríssima taça de champanhe. Não o seio direito; o esquerdo. É por isso que as antigas taças de champanhe eram abertas. As de hoje, compridas e estreitas, não devem ter se baseado em algum seio. Pelo menos assim espero. Sinto até certo receio de pensar em qual foi o molde para as taças modernas.

De qualquer forma, sou a favor de champanhes nos dois tipos de taça, embora não seja capaz de passar a noite inteira só nessa bebida, como fazem alguns amigos e, sobretudo, algumas amigas. A certa altura da madrugada, a champanhe me dá sede, e aí volto para a fiel e infalível cerveja. De preferência, chope.

Admito que, nestes tempos de isolamento, tenho me dedicado mais aos chamados "vinhos tranquilos", como toda gente. E é por essa razão que estou pensando em promover a Grande Festa da Champanhe quando a vacina chegar.

Será uma espécie de vingança por todo esse tempo de recolhimento que o maldito corona nos impõe. Reunirei os amigos em uma vibrante aglomeração, de preferência na praia, à beira-mar. Portaremos nossos atestados de vacinação com orgulho, como se fossem diplomas numa formatura, e os tremularemos como bandeiras de vitória. Haverá boa comida e boa música. Vamos dançar e, é claro, nos abraçar. E, à meia-noite, vamos erguer bem alto nossas taças de champanhe, vamos brindar à vida e, finalmente, proclamar:

"Venham todos! Estamos bebendo estrelas!".

DAVID COIMBRA

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