terça-feira, 18 de agosto de 2020



18 DE AGOSTO DE 2020
+ ECONOMIA

Banrisul quer abrir PDV

Em fato relevante, o Banrisul comunicou ontem que pretende abrir um programa de desligamento voluntário. Esse tipo de plano é preparado quando instituições ou empresas precisam reduzir o número de funcionários e costuma contar com algum tipo de vantagem para quem aceita sair. No caso do Banrisul, as regras ainda não estão definidas. A instituição informou que "iniciará negociação com as entidades sindicais" com esse objetivo. Empresas com ações negociadas na bolsa, como o Banrisul, são obrigadas a informar esse tipo de movimento com antecedência. Conforme o Sindibancários, que representa os funcionários, haverá resistência.

"Título público corre o risco de virar ativo tóxico na década de 2020" - ENTREVISTA: FABIO GIAMBIAGI Especialista em contas públicas

No ano passado, o especialista em contas públicas Fabio Giambiagi propôs a flexibilização da regra do teto de gastos. Agora, diante das pressões dos "fura- teto", avalia que não é o melhor momento. Adverte para o risco de o Brasil repetir os erros de 2012/2013, que levaram à recessão de 2014 a 2016. A "crise do teto" foi determinante, ontem, para a queda de 1,73% na bolsa e a alta de 1,45% no dólar, para R$ 5,49.

Por que havia proposto flexibilizar o teto a partir de 2023?

Estou convencido de que o teto, como foi formulado, não poderá ser mantido até 2026, como previsto.

E por que agora não é o melhor momento para esse debate?

Requer ampla pactuação política. Tivemos amplitude política em 2016 e em 2019, na lua de mel entre Executivo e Legislativo em torno da reforma da Previdência. Em 2023, quem for eleito terá a possibilidade de promover ampla coalizão que permita alcançar o apoio que uma medida desse tipo requer. Ainda que por razões justificadas, os números fiscais de 2020 serão calamitosos; portanto, é de bom tom restabelecer a ordem, antes de pensar em gastar mais.

Qual a fronteira entre despesas emergenciais e o risco?

As medidas fiscais de combate aos efeitos da pandemia foram poderosas e vigorarão durante 2020. No terceiro trimestre, a economia exibirá sinais importantes de melhora do ritmo e, no próximo ano, espera-se recuperação do PIB de 3% a 4%, voltando até o final de 2021 a um nível parecido com o do começo de 2020. Não há razões para manter novos estímulos. Se não, começa a ter semelhanças com 2012/2013, quando, muito tempo depois da crise de 2008 ter sido superada, o governo insistia com estímulos ineficazes.

Furar teto é a nova pedalada?

Do ponto de vista legal, cabe aos juristas opinarem. Do ponto de vista conceitual, pedaladas e despesas no extrateto são tentativas torpes de ignorar limites. Somos um país com longo histórico de indisciplina fiscal. Está na hora de levar as restrições a sério para mostrar que as contas fiscais são sustentáveis no longo prazo. Caso contrário, título público corre o risco de virar ativo tóxico na década de 2020. Sobre a pressão por mais gasto, é inevitável lembrar o conselho de Churchill a seu secretário do Tesouro: "Não tema a oposição, tema seus colegas de gabinete".

Há risco de o endividamento passar de 100% do PIB?

Em algum momento da década, sim, sem dúvida. O problema não é o número mágico, é a trajetória. Se o dinheiro que entra não muda e a dívida só aumenta, em algum momento o credor vai começar a achar que a dívida é impagável. Em que ponto isso ocorre num país? Ninguém sabe a priori, mas não dá para testar. Passei o Réveillon de 2002 na Argentina. Provavelmente 31 de dezembro de 2001 foi um dos dias mais tristes da minha vida. O país tinha acabado de dar calote, havia feriado bancário, megadesvalorização e a percepção de que o país tinha colapsado. Não quero ver isso agora no Brasil. É horrível.

Como buscar o reequilíbrio?

É preciso que o Brasil se convença: gasto do governo não faz o país crescer. É importante para a saúde, para a educação, mas o que gera negócios, movimenta a economia, leva as pessoas a tomar decisões de gastar é ter confiança no futuro, previsibilidade, percepção de contas fiscais sustentáveis, juro baixo, ambiente de negócios, confiança, confiança, confiança. E infelizmente, nesse quesito, o comportamento do Brasil tem sido deplorável. Lido com investidores estrangeiros há 30 anos e sinto o cansaço. É como se eles dissessem: "Ok, no dia em que vocês se entenderem, nos procurem, agora deixa eu ganhar dinheiro na Ásia".

MARTA SFREDO

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