quinta-feira, 27 de agosto de 2020



27 DE AGOSTO DE 2020
DAVID COIMBRA

Uma série para assistir

Vi Marco Polo, e agora acho que estou sem séries para assistir. Triste.

É que gosto de séries baseadas em fatos históricos. Roma talvez tenha sido a melhor. A reprodução da vida privada da Antiga Roma é fiel e minuciosa, uma aula de história. Claro que a trama segue seu próprio curso fictício, mas há muito de realidade no que é narrado. Os dois protagonistas, os soldados Voreno e Pulo, existiram mesmo. São os únicos legionários citados por Júlio César em seu livro sobre a guerra gaulesa. Tinha esse livro e o perdi nas mudanças tantas. Agora só o encontro em latim, e latim, definitivamente, não é o meu forte. Triste.

A história que Júlio César conta de Voreno e Pulo é maravilhosa. Eles eram rivais. Não se gostavam. Num combate contra um povo gaulês, os nérvios, Pulo se extraviou do grosso da legião e se viu cercado de inimigos. Arremessou seu pilo e atravessou o peito de um nérvio que o atacava. Mas foi atingido por uma lança, caiu e seria morto ali mesmo, se Voreno não visse o que estava acontecendo e corresse para acudi-lo. Voreno matou um inimigo e deu tempo para que Pulo se erguesse e voltasse à luta. Assim, os dois rivais, ombro a ombro, como dois irmãos, foram abatendo os bárbaros e recuando até a tropa, que os recebeu sob aplausos e gritos de entusiasmo.

Na série, essa batalha é mostrada mais ou menos como César narrou.

Marco Polo tem essa boa qualidade de Roma, essa tentativa de reproduzir a vida privada de uma sociedade antiga. Mas é evidente que nós, ocidentais do século 21, nos interessamos menos pelos velhos mongóis do que pelos velhos romanos. Até porque somos subprodutos de Roma. Nossa cultura, nossa língua, nossos costumes, nossas leis e nossa forma de viver vieram de Roma e da Grécia. É por isso que o estudo dessas civilizações é tão importante. Fico preocupado quando vejo as escolas do Brasil perdendo o foco neste conteúdo em nome de abordagens politicamente corretas, mas isso é tema para outra conversa. Por ora, sigo com Marco Polo.

A série idealiza o personagem, e não poderia deixar de ser assim. Ele se torna um grande guerreiro e salva o império mongol algumas vezes. Mas fico pensando que nem precisava dessa demão dourada. Se a série tentasse apenas contar a história real de Marco Polo já haveria emoções em quantidade suficiente. Imagine que, há 800 anos, ele saiu de Veneza em direção ao Extremo Oriente. Levou três anos na viagem, de barco e a pé, seguindo pela lendária Rota da Seda. Chegando à China, integrou a corte do próprio Kublai Khan, o neto de Gengis Khan. Marco Polo só voltou à Europa depois de 24 anos.

Estando de novo em casa, não sossegou. Meteu-se numa guerra entre Veneza e Gênova e teve a "sorte" de ser capturado pelos genoveses. Na cadeia, conheceu um escritor, que tomou nota de suas memórias e, depois de um ano, lançou um livro que se tornou sucesso no continente: O Livro das Maravilhas.

Também tinha esse livro e também o perdi nas tais mudanças tantas. Encontrá-lo-ei. Juro por Marco Polo!

Mas o que queria dizer sobre a série de TV é que Marco Polo acaba não sendo sobre Marco Polo, e sim sobre os mongóis. O que se torna muito interessante. A figura do Kublai Khan conquista o espectador e vira o centro da narrativa. Vou pedir para o Ticiano Osório assistir e tecer uma crítica mais abalizada do que a minha. Enquanto isso, veja também você, forme sua opinião e me dê uma dica de outra série histórica, por favor.

DAVID COIMBRA

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