terça-feira, 25 de agosto de 2020


25 DE AGOSTO DE 2020
AMOR EM TEMPOS DE CORONAVÍRUS


Menos casamentos, mas não tão poucos

Maiara Fernandes, 27 anos, e Daniel Herter, 28, chegaram ao Cartório de Registro Civil da Segunda Zona, situado no bairro Cidade Baixa, em Porto Alegre, às 15h30min do último dia 14. Em cinco minutos, foram chamados à sala onde seria celebrado o casamento deles - inicialmente, marcado para as 15h45min.

- Posso colocar aqui? - perguntou Maiara à juíza de paz, posicionando seu celular sobre uma mesa para que familiares e amigos, conectados por aplicativo, acompanhassem a cerimônia.

A celebrante, então, perguntou se a pedagoga e o enfermeiro se casariam por livre e espontânea vontade. Diante das respostas afirmativas, pediu que o casal e as duas testemunhas presentes assinassem a certidão e, enfim, anunciou:

- Em nome das leis, os declaro casados. O beijinho tem de ser sem tirar a máscara, infelizmente.

Em quatro minutos e 40 segundos de uma cerimônia rápida e pragmática, sintomática destes tempos de pandemia, Maiara e Daniel passaram da situação de solteiros para a de casados. Casamentos como este seguem acontecendo, mesmo que em ritmo menos acelerado. De março a julho, período dentro da pandemia, cartórios registraram 101.550 casamentos no Rio Grande do Sul, queda de 10% se comparados aos 112.839 celebrados no mesmo período do ano passado. Apesar do recuo, o número ainda é superior ao de registrados em igual intervalo em 2017 e 2016.

O decréscimo, segundo escreventes, decorre da impossibilidade de comemorar uniões civis em festas que tenham a presença de juiz de paz. Nas igrejas católicas e evangélicas consultadas por ZH, casamentos seguem suspensos.

- Houve muitos cancelamentos porque, normalmente, as pessoas querem reunir vários amigos e parentes, e isso está proibido - afirma a escrevente Débora Araújo, do Cartório de Registro Civil da Primeira Zona de Porto Alegre.

Adequações

Em razão da pandemia, cartórios tiveram de adequar suas regras. As cerimônias de matrimônio tornaram-se ainda mais protocolares, ligeiras e restritas - atualmente, apenas os noivos e as duas testemunhas requeridas por lei podem comparecer. Em alguns casos, há também um fotógrafo.

Namorados há dois anos, Maiara e Daniel tinham planos de morar juntos depois que casassem, mas o coronavírus acelerou a mudança. Daniel trabalha na Cadeia Pública de Porto Alegre e precisou sair de casa às pressas para preservar os pais, do grupo de risco. Juntos, mudaram-se para um apartamento no bairro Floresta, na Zona Norte, e decidiram pelo casamento civil para chancelar a união. Para comemorar, distribuíram lembrancinhas aos amigos e familiares - macarons e um bilhete dizendo "o amor é doce" - e, à noite, chamaram os mais próximos para festa virtual. Um pastor abençoou os noivos e um professor deu aula de dança para os mais de 50 convidados.

Uma das principais mudanças que levaram ao adiamento de casamentos durante a pandemia, de acordo com a Associação dos Registradores de Pessoas Naturais do Estado (Arpen-RS), foi o cancelamento de prazos. Antes, casais tinham 90 dias para celebrar a união após apresentarem seus documentos e receberem a certidão de habilitação emitida pelo cartório. Hoje, esta data limite está suspensa.

Fernanda Ferrari, 36 anos, e Vinícius do Nascimento, 36, não deixaram para depois. Noivos desde fevereiro, a administradora e o aviador casaram-se em 20 de junho em cerimônia reservada no apartamento onde moram, no bairro Rio Branco, em Porto Alegre. - O que o isolamento uniu nada mais separa - diz Fernanda.

DÉBORA ELY

Nenhum comentário:

Postar um comentário