27 de março de 2012 | N° 17021
LUÍS AUGUSTO FISCHER
A SEC
contra a literatura
O que tem a nossa Secretaria de Educação contra a
literatura? Que ela tem algo contra, para mim não resta dúvida: basta olhar
para os termos do edital do concurso para professores, a realizar-se mês que
vem.
Não estou dizendo que o secretário José Clóvis Azevedo não
gosta de ler, ou que os mentores do programa do concurso não gostam de Machado
de Assis ou de Simões Lopes Neto – confio que sim; mas é certo que eles todos
subscreveram uma barbaridade cultural, que explico em parágrafo novo.
Assim: um colega, Pedro Garcez, por sinal linguista, me chamou
a atenção: “Viste o programa da prova da SEC?”. Pois fui ver (em www.educacao.rs.gov.br,
no Anexo 10 do concurso do magistério).
Na verdade são duas provas: uma é genérica, uma prova de Língua
Portuguesa para todo mundo, e a outra uma prova a que deverão submeter-se os
formados em Letras que queiram ingressar no magistério estadual. Esta segunda
se intitula, enganosamente, quase digo perfidamente, prova de Língua Portuguesa
e Literatura Brasileira; e nela, com esse nome e tudo, simplesmente não consta
nenhum tópico acerca de literatura, nem de história literária, nem um mísero título
de livro de literatura. NENHUM! ZERO!
Isso quer dizer que a SEC e o secretário José Clóvis acham
razoável que os professores ingressantes, que vão dar aula de Língua e Literatura,
não conheçam literatura brasileira. Não se cobrará deles, na prova, que tenham
lido uma linha de Graciliano Ramos, de Erico Verissimo ou Carlos Drummond de
Andrade.
UMA LINHA SEQUER. Se eles tiverem lido e por acaso forem
leitores, a prova não quer saber. (Na bibliografia, são citados um livro do
Bakhtin e outro do Antonio Candido, que não devem ter sido lidos por quem fez
aquele programa cretino.)
Agora o senhor me responda, com ou sem o auxílio dos
burocratas da SEC que foram capazes desse horror: como esperar que haja formação
de leitores nas escolas? Sei que poderão me responder, cândida ou
insolentemente, que eles querem “formar leitores”, genericamente.
E eu digo aqui: o leitor se forma LENDO LITERATURA, não
apenas quadrinhos, placa de trânsito ou panfleto político. Senhores e senhoras
responsáveis por esse silencioso crime cultural, eu vou dizer de novo, bem alto:
LEITOR SE FORMA LENDO LITERATURA.
Deu pra ouvir?