Eu,
por exemplo, daria tudo, tudo nesta vida para virar AMÉLIA!
(um
dia ainda chego lá, se Deus e meu futuro marido (espero ter um dia quiserem.)
São 7h.
O despertador canta de galo e eu não tenho forças nem para atirá-lo contra a
parede. Estou TÃO acabada, não queria ter que trabalhar hoje.Quero
ficar em casa, cozinhando, ouvindo música, cantarolando, até. Se tivesse
filhos, gastaria a manhã brincando com eles, se tivesse cachorro, passeando
pelas redondezas. Aquário?
Olhando
os peixinhos nadarem. Espaço? Fazendo alongamento. Leite condensado? Brigadeiro.
Tudo menos sair da cama, engatar uma primeira e colocar o cérebro pra funcionar.
Gostaria
de saber quem foi a mentecapta, a matriz das feministas que teve a infeliz idéia
de reivindicar direitos à mulher e por quê ela fez isso conosco, que nascemos
depois dela. Estava tudo tão bom no tempo das nossas avós, elas passavam o dia
a bordar, a trocar receitas com as amigas, ensinando-se mutuamente segredos de
molhos e temperos, de remédios caseiros.
Lendo
bons livros das bibliotecas dos maridos, decorando a casa, podando árvores, plantando
flores, colhendo legumes das hortas, educando crianças, freqüentando saraus, a
vida era um grande curso de artesanato, medicina alternativa e culinária.
Aí vem
uma fulaninha qualquer que não gostava de sutiã tampouco de espartilho, e
contamina várias outras rebeldes inconseqüentes com idéias mirabolantes sobre "vamos
conquistar o nosso espaço".
Que
espaço, minha filha? Você já tinha a casa inteira, o bairro todo, o mundo ao
seus pés. Detinha o domínio completo sobre os homens, eles dependiam de você para
comer, vestir, e se exibir para os amigos, que raio de direitos requerer?
Agora
eles estão aí, todos confusos, virando gays, não sabem mais que papéis
desempenhar na sociedade, fugindo de nós como o diabo da cruz.Essa
brincadeira de vocês acabou é nos enchendo de deveres, isso sim. E nos lançando
no calabouço da solteirice aguda. Estamos pagando um preço muito alto ! Não
somos reconhecidas e ainda perdemos todas as mordomias que já eram nossas por
direito .
Antigamente,
os casamentos duravam para sempre, tripla jornada era coisa do Bernard do vôlei
- e olhe lá, porque naquela época não existia Bernard e, se duvidar, nem vôlei.
Por quê, me digam por quê um sexo que tinha tudo do bom e do melhor, que só precisava
ser frágil, foi se meter a competir com o macharedo?
Olha
o tamanho do bíceps deles, e olha o tamanho do nosso. Tava na cara que isso não
ia dar certo. Não agüento mais ser obrigada ao ritual diário de fazer escova,
maquiar, passar hidratantes, escolher que roupa vestir, que sapatos, acessórios,
que perfume combina com o meu humor, nem de ter que sair correndo, ficar engarrafada,
correndo o risco de ser assaltada, de morrer atropelada, passar o dia ereta na
frente do computador, com o telefone no ouvido, resolvendo problemas.
Somos
fiscalizadas e cobradas por nós mesmas a estar sempre em forma, sem estrias,
depiladas, sorridentes, cheirosas, unhas feitas, sem falar no currículo impecável,
recheado de mestrados, doutorados, e especializações.
Viramos
super mulheres, continuamos a ganhar menos do que eles. Não era muito melhor
ter ficado fazendo tricô na cadeira de balanço?
Chega,
eu quero alguém que pague as minhas contas, abra a porta para eu passar, puxe a
cadeira para eu sentar, me mande flores com cartões cheios de poesia, faça
serenatas na minha janela - ai, meu Deus, 7h30, tenho que levantar!, e tem
mais, que chegue do trabalho, sente no sofá, coloque os pés pra cima e diga "meu
bem, me traz uma dose de whisky, por favor?", descobri que nasci pra
servir. Cês pensam que eu tô ironizando? Tô falando sério! Estou abdicando do
meu posto de mulher moderna...
Troco
pelo de Amélia!