28 de março de 2012 | N° 17022
MARTHA MEDEIROS
O
humor que desmoraliza
A morte de Chico
Anysio e as merecidas homenagens que ele tem recebido nos fazem pensar sobre a
mudança por que o humor vem passando. Lembro com saudade do “Não garavo”
(Alberto Roberto), “Ca-la-da!” (Nazareno), “Isso me ama” (Coronel Limoeiro) e
outros bordões que povoaram minha infância (assim como “ô Cridê, do Golias, o
“muy amigo”, criado pelo Jô, e “ô psit” do Renato Aragão), mas teve uma hora
que cansou.
Era o momento de abraçar o espírito renovador da TV Pirata,
do Casseta & Planeta, de Os Normais e do recente Tapas e Beijos, programas
menos populares se comparados aos antecessores, mas igualmente criativos.
Humor bom é aquele
que chama a atenção para nossos preconceitos fazendo graça. Chico Anysio criou
um pai de santo homossexual, um político que assumia odiar os pobres, um marido
que tratava mal a mulher por ela ser feia, um pastor evangélico que só se
interessava em passar a sacolinha, um jogador perna de pau que pensava que era
craque, e nada disso soava grosseiro, apenas divertido.
O que mudou da
geração Chico City para a geração TV Pirata foi a espontaneidade das
interpretações e um pouco de perda da inocência, mas só um pouco. Até que
chegamos ao humor de agora, de inocência zero. Do que se ri hoje? Não do
ridículo, e sim da ridicularização. Engraçado é você humilhar.
Fora do Brasil, a
mesma coisa. Adeus ao surrealismo hilário de Monty Phyton: que venha o Borat,
representante de um humor moderno que eu, particularmente, abomino. Não que ele
seja irrelevante, mas essa comicidade que deprecia e constrange, típica das
pegadinhas e dos trotes, confirma que a grosseria passou a ser reconhecida como
um forte traço de caráter do ser humano.
Ninguém vai
esperar que um humorista seja cerimonioso, mas há uma linha tênue que separa o
burlesco do grotesco. Semana passada, assisti a um stand up em Porto Alegre
(Desculpe, mas o Ator Americano Ficou Doente), que levou o público às
gargalhadas com imitações, irreverências e piadas politicamente incorretas,
tudo com o melhor dos respaldos: a inteligência. Não há como se sentir agredido
pela inteligência – a não ser que você não a tenha.
Já fomos mais
elegantes, inclusive para fazer rir. Por ora, o humor tem se valido do
esculacho mais vil e miserável. O que explica essa nostalgia toda por Chico
Anysio.
Você sabe o que é
autismo? Poucos sabem. Domingo próximo, começarão diversas atividades que visam
esclarecer sobre a doença e alertar sobre a importância do diagnóstico precoce.
Tudo começa com uma caminhada às 11h30min, com saída do Brique da Redenção.
Vista uma camiseta azul e participe. Temos cerca de 2 milhões de crianças
autistas no Brasil e quase nada de informação.