DANUZA
LEÃO
Perigo anunciado
Se
já tem tanta violência, imagine uma briga por um impedimento mal marcado, com
os torcedores bebendo
AFINAL,
OS torcedores vão poder beber sua cervejinha nos estádios durante a Copa, sim
ou não?
O
problema entre a base aliada e a oposição, Código Florestal etc., é uma coisa,
mas vamos falar de outra: o compromisso que o governo assinou com a Fifa,
liberando a venda de bebida alcoólica nos estádios durante a Copa.
Se
já acontece tanta violência entre as torcidas em tempos normais, imagine uma
briga por um impedimento mal marcado, com os torcedores bebendo. Mas os
dirigentes da Fifa e da cervejaria patrocinadora não estão nem aí, é apenas um
problema de $$$, e a responsabilidade sobre qualquer tumulto será totalmente do
governo.
O
Brasil tem que honrar o compromisso que assinou? Tem. Mas foi certo ter
concordado com a liberação da bebida? No meu entender, não. E por que então
assinou? Porque a Fifa quis, porque a cervejaria que patrocina quis, e as
autoridades brasileiras não tiveram coragem de dizer não. O Brasil quis posar
de bacana, sediar a Copa e a Olimpíada mostraria ao mundo como somos
importantes etc. etc. Que herança, hein, presidente Dilma?
Os
que são a favor da medida argumentam dizendo que até o Qatar, país onde é
proibida a bebida alcoólica e que será sede da Copa de 2022 -a escolha
aconteceu em meio a escândalos de suborno, propinas etc.-, aceitou que o álcool
role durante os jogos; pois fez muito mal o Qatar.
Por
duas vezes a Fifa foi deselegante com o Brasil -para não dizer moleque. A primeira
quando Valcke, seu secretário-geral, disse que o Brasil precisava levar um
chute no traseiro para agilizar as obras e garantir a aprovação da Lei Geral da
Copa; ele até tem razão, mas escolheu mal as palavras. Dilma não gostou, o
ministro Aldo Rebelo declarou que não aceitaria mais Valcke como interlocutor e
até pediu que ele fosse trocado. Valcke se defendeu dizendo que foi erro de
tradução.
A
segunda foi quando, dias depois de ter sido recebido por Dilma, Blatter
confirmou que Valcke continua não só como secretário-geral do evento, mas como
responsável pela organização da Copa -é o homem forte do Mundial.
Aguarda-se
agora a próxima visita de Valcke ao Brasil, considerado persona non grata pelo
ministro do Esporte, Aldo Rebelo.
No
nosso país a corrupção nas licitações é normal; quando uma obra atrasa -e as
obras da Copa estão atrasadíssimas-, tem que ser feita em caráter emergencial,
e esse é o caminho mais curto para roubalheiras escandalosas, o que saberemos
pela imprensa, claro.
Vamos
nos preparar para ouvir que nunca se roubou tanto nesse país, e só quero ver o
que vão achar os torcedores quando souberem o quanto vão ter que pagar para
verem um jogo em outra cidade; a passagem aérea no Brasil é a mais cara do
mundo, uma Rio/SP/Rio custa em volta de R$ 1.000.
Torcida
de futebol com álcool liberado é uma dobradinha que não pode dar certo. Não ter
enfrentado a Fifa e dizer um solene NÃO, quanto à liberação das bebidas, foi
fruto de nosso complexo de vira-lata. E ninguém sabe o que mais foi combinado
-e assinado- entre o Brasil e a Fifa, que se acha a dona do mundo.
O
Carnaval hoje é totalmente dominado pelas cervejarias; agora elas começam a
mandar também no futebol.
danuza.leao@uol.com.br