terça-feira, 27 de março de 2012


Martha Medeiros

Abrindo espaço

Uma pergunta que me ocorre com freqüência, e deve ocorrer com muitos que têm algum destaque no que fazem, é: por que eu?

Em vez de estar me lendo agora, você poderia estar lendo as palavras de um João, de uma Luíza, de uma Rosana ou de qualquer outro sujeito que igualmente teria o que dizer, e que também saberia escrever com estilo, como diversas pessoas escrevem, mas não têm onde publicar. Mas calhou de ser eu a titular deste espaço às quartas, por uma série de motivos, entre eles, merecimento, lógico. Mas não só isso.

Eu tive a sorte de um dia, lá no comecinho, 20 anos atrás, ter chamado a atenção da Tania  Carvalho, do Luciano Alabarse e do Caio Fernando Abreu, três gaúchos que me pegaram pela mão sem me conhecer e me divulgaram pros amigos, iniciando o boca-a-boca, a mídia mais eficiente que há.

Dali em diante, batalhei sozinha, mas sempre com algum anjo da guarda de prontidão, tenho vários. E as coisas acabaram dando certo. Talento, suor, dedicação, honestidade, tudo isso é imprescindível, mas sem um empurrãozinho, nada acontece. Uma crítica positiva publicada num importante jornal pode alavancar seu trabalho.

Uma ausência de crítica - ou pior, um comentário maldoso feito por um jornalista que acordou de ressaca e descontou em você - pode acabar com sua reputação. Assim se constroem e se sepultam carreiras. Sorte. Alguém te percebe ou ninguém te percebe.

Uns conseguem "existir" porque, além de levarem jeito pra coisa, tiveram uma boa estrela, receberam um elogio na hora exata e os caminhos se abriram, e outros com talvez mais talento não tiveram esta chance, às vezes por culpa do destino, outras por culpa deles mesmos: ou se mostraram ressentidos demais, ou bestas demais, ou tímidos demais, e fincaram raízes no anonimato.

Não é lá muito justo, mas é assim. Há muita gente boa mofando em prateleiras de livraria, fazendo teatro em festinha infantil e tocando sua guitarra para as paredes.

Não sou nenhum mecenas, não tenho o poder (e nem tempo!) de absorver tudo o que me mandam e transformar isso em incentivo, mas às vezes me cai em mãos um trabalho precioso e penso: não posso guardar só pra mim. Precioso, no caso, é o primeiro livro de contos da Monique Revillion, Teresa, que Esperava as Uvas.

Uma escritora que, em sua estréia, revela-se uma veterana, reproduzindo o mundo e os sentimentos com um sofisticado manejo de palavras e que consegue transformar ternura e violência numa coisa só - assombroso, portanto.

Foi inevitável pensar: ela está desembarcando com outras centenas de autores nas livrarias, todos aguardando sua vez, sua hora, sua chance. Uns acontecerão, outros aconteceriam, se.

Não sei se vai adiantar alguma coisa, Monique, mas eis minhas duas mãos espalmadas em suas costas e minha torcida. Que se inicie o boca-a-boca. Vai e vence.