Martha Medeiros
Abrindo espaço
Uma
pergunta que me ocorre com freqüência, e deve ocorrer com muitos que têm algum
destaque no que fazem, é: por que eu?
Em
vez de estar me lendo agora, você poderia estar lendo as palavras de um João,
de uma Luíza, de uma Rosana ou de qualquer outro sujeito que igualmente teria o
que dizer, e que também saberia escrever com estilo, como diversas pessoas
escrevem, mas não têm onde publicar. Mas calhou de ser eu a titular deste espaço
às quartas, por uma série de motivos, entre eles, merecimento, lógico. Mas não
só isso.
Eu
tive a sorte de um dia, lá no comecinho, 20 anos atrás, ter chamado a atenção
da Tania Carvalho, do Luciano Alabarse e
do Caio Fernando Abreu, três gaúchos que me pegaram pela mão sem me conhecer e
me divulgaram pros amigos, iniciando o boca-a-boca, a mídia mais eficiente que
há.
Dali
em diante, batalhei sozinha, mas sempre com algum anjo da guarda de prontidão,
tenho vários. E as coisas acabaram dando certo. Talento,
suor, dedicação, honestidade, tudo isso é imprescindível, mas sem um empurrãozinho,
nada acontece. Uma crítica positiva publicada num importante jornal pode
alavancar seu trabalho.
Uma
ausência de crítica - ou pior, um comentário maldoso feito por um jornalista
que acordou de ressaca e descontou em você - pode acabar com sua reputação. Assim
se constroem e se sepultam carreiras. Sorte. Alguém te percebe ou ninguém te
percebe.
Uns
conseguem "existir" porque, além de levarem jeito pra coisa, tiveram
uma boa estrela, receberam um elogio na hora exata e os caminhos se abriram, e
outros com talvez mais talento não tiveram esta chance, às vezes por culpa do
destino, outras por culpa deles mesmos: ou se mostraram ressentidos demais, ou
bestas demais, ou tímidos demais, e fincaram raízes no anonimato.
Não é
lá muito justo, mas é assim. Há muita gente boa mofando em prateleiras de
livraria, fazendo teatro em festinha infantil e tocando sua guitarra para as
paredes.
Não
sou nenhum mecenas, não tenho o poder (e nem tempo!) de absorver tudo o que me
mandam e transformar isso em incentivo, mas às vezes me cai em mãos um trabalho
precioso e penso: não posso guardar só pra mim. Precioso, no caso, é o primeiro
livro de contos da Monique Revillion, Teresa, que Esperava as Uvas.
Uma
escritora que, em sua estréia, revela-se uma veterana, reproduzindo o mundo e
os sentimentos com um sofisticado manejo de palavras e que consegue transformar
ternura e violência numa coisa só - assombroso, portanto.
Foi
inevitável pensar: ela está desembarcando com outras centenas de autores nas
livrarias, todos aguardando sua vez, sua hora, sua chance. Uns acontecerão,
outros aconteceriam, se.
Não
sei se vai adiantar alguma coisa, Monique, mas eis minhas duas mãos espalmadas
em suas costas e minha torcida. Que se inicie o boca-a-boca. Vai e vence.