quarta-feira, 12 de agosto de 2015



12 de agosto de 2015 | N° 18257 
DAVID COIMBRA

O fim do sexo


Os japoneses estão desistindo do sexo. Não os velhos japoneses, já cansados da lida; os jovens.

Meu amigo Fernando Eichenberg, o Dinho, que anda muito interessado na civilização japonesa por conta de suas pesquisas jornalísticas e culturais, pois o Dinho me contou que os jovens japoneses, agora, preferem jogar jogos eletrônicos, ou simplesmente conversar com as jovens japonesas, a envolver-se sexualmente.

Os japoneses são mesmo o povo mais avançado do planeta, e essa é mais uma prova de sua educação superior. Schopenhauer recomendava que o ser humano desistisse da reprodução. A ideia era extinguir a espécie de forma lenta e indolor. Se não tivéssemos mais filhos, o homem desapareceria da face da Terra sem traumas, sem dramas, sem violência, quase que alegremente.

É um bom projeto.

Mas repare: Schopenhauer não sugeria a desistência da atividade sexual. Ao contrário: ele próprio era um militante. Schopenhauer nunca se casou, mas acumulava mulheres a soldo. Tratava-se de ativo praticante, ao contrário de Kant, filósofo que pode ser considerado seu antecessor. Kant, uma vez, apaixonou-se por uma mulher, mas demorou tanto a revelar seus sentimentos, que ela se casou com outro, um homem mais decidido, mais rico e mais másculo, mas insignificante. As mulheres são assim: preferem o anonimato na prosperidade à posteridade na pobreza.

Depois dessa experiência, ou dessa não experiência, Kant não quis mais saber de mulheres em sua vida, com o que ganharam a filosofia e a Humanidade. Não faz muito, um gaiato lançou um opúsculo intitulado A vida sexual de Immanuel Kant. Uma gozação – Kant não teve vida sexual.

Nietzsche, outro filósofo alemão, também não teve vida sexual. Apaixonou-se, certa feita, por uma bela russa chamada Lou Salomé. Viviam sempre juntos, ele, Salomé e seu amigo Paul Rée. Há uma foto famosa dos três: Lou numa carroça, com um chicote na mão, e Paul e Nietz puxando a canga, como dois cavalinhos obedientes. Para você ver do que um homem apaixonado é capaz. Bem. Lou fez como a apaixonada de Kant: preferiu o outro, preferiu Paul. Nietz ficou descornado, brigou com os dois e foi escrever filosofia.

A frustração sexual faz mal ao coração e bem ao pensamento. Sempre foi assim. O próprio Sócrates só saía às ruas de Atenas em busca da verdade porque, em casa, quem mandava era a mulher, a brigona e, segundo os antigos e fofoqueiros gregos, feiosa Xantipa.

Estão certos os japoneses, portanto. Não fazer sexo e não se reproduzir é prova de evolução.

Para que insistir com uma espécie que faz coisas como fizeram aqueles paulistas que deram tiros de chumbinho nos imigrantes haitianos? Que criaturas são essas, que não respeitam nem o sofrimento alheio? Chega. Fomos longe demais. Vamos seguir os conselhos dos bons filósofos e dos civilizados japoneses. Vamos acabar suavemente com essa confusão.