segunda-feira, 24 de agosto de 2015



24 de agosto de 2015 | N° 18272
EDITORIAL

A ESTRATÉGIA DOS SUSPEITOS


Desqualificar o acusador é uma estratégia antiga, que invariavelmente diz mais sobre o caráter dos detratores do que sobre eventuais desvios de quem acusa.
Assim como o ex-ministro do Supremo Joaquim Barbosa foi atacado duramente por setores inconformados com as investigações e as punições do mensalão, agora os acusados da Operação Lava-Jato tentam desqualificar o juiz Sergio Moro e o procurador-geral da República, Rodrigo Janot. 

Não passa dia sem que se levante algum questionamento sobre a atuação dos responsáveis pela investigação do maior escândalo de corrupção já registrado no país. O magistrado tem sido acusado de exibicionismo, de arbítrio e até de comprometimento político. O procurador – que nesta semana passará no Senado por uma sabatina decisiva para sua recondução ao cargo – começou a ser atacado pelos parlamentares denunciados, que o acusam de fazer o jogo do governo.

Desqualificar o denunciante é uma estratégia antiga, que invariavelmente diz mais sobre o caráter dos detratores do que sobre eventuais desvios de quem acusa. Talvez até caiba debate jurídico sobre o rigor do magistrado responsável pela Lava-Jato, que tem arrancado confissões de suspeitos sob a pressão de encarceramentos prolongados e faz uso frequente do instrumento da delação premiada. 

Mas é inegável que suas ações levantaram o véu da corrupção histórica que dilapidava a Petrobras, levando às barras da Justiça corruptos e corruptores de variados calibres, posições sociais e filiação partidária. Depois da localização e da devolução de volumosos recursos públicos subtraídos pelo esquema delituoso, nem mesmo o mais inconformado dos réus pode alegar que os fatos são inverídicos.

Quanto ao procurador, é importante lembrar que, antes de denunciar o presidente da Câmara, Eduardo Cunha, e o ex-presidente e senador Fernando Collor, ele já solicitara ao Supremo a investigação de mais de quatro dezenas de políticos de pelo menos cinco partidos. Não cabe, portanto, a acusação de parcialidade.

Compreendem-se as maledicências plantadas nas redes sociais por partidários dos suspeitos investigados ou denunciados. O que não se pode aceitar é a tentativa escancarada de desmoralizar os investigadores e muito menos qualquer tipo de retaliação por parte de parlamentares contrariados com as denúncias. Por isso, tanto a campanha de desqualificação quanto o julgamento parlamentar devem ser acompanhados com atenção pela população brasileira, que vem demonstrando inequívoco apoio ao juiz e ao procurador nas suas ações pela restauração da ética na administração pública.