quarta-feira, 26 de agosto de 2015



26 de agosto de 2015 | N° 18274 
FÁBIO PRIKLADNICKI

UMA ARTE SUBVERSIVA E PERIGOSA


Se há algo revolucionário no nosso mundo pós-revolucionário, esse algo é a arte de rua. Acostumados que somos à comodidade da internet, consideramos as plataformas digitais o suprassumo do acesso democrático à criatividade, mas esquecemos que metade da população do país não tem acesso à rede. Sem querer opor uma coisa e outra, mas apenas a título de reflexão, a arte de rua dialoga com a população onde ela efetivamente está: o espaço público.

Estranhas forças querem nos convencer de que o espaço público é perigoso e, por isso, cidadãos de bem – essa entidade de definição escorregadia – devem permanecer enclausurados em seus lares. Daí que o ato de simplesmente estar na rua pareça tão desafiador. A bem da verdade, a arte de rua é subversiva, sim, mas não na acepção perversa que os ditadores de tempos atrás emprestaram ao termo. É subversiva no sentido de nos fazer perceber detalhes da cidade em que, pela força do costume, deixamos de reparar.

A poluição do Arroio Dilúvio, por exemplo. Mais de uma vez, os atores e performers Marina Mendo e Rossendo Rodrigues realizaram a intervenção Ecopoética, na qual se penduraram em uma das pontes da Avenida Ipiranga dentro de uma rede cheia de lixo, como se tivessem sido pescados de dentro do Dilúvio. 

E como não lembrar da performance sensual Ilha dos Amores, da companhia Falos & Stercus, que espalhou artistas na esquina da Ipiranga com a Borges de Medeiros, em 2013, e um deles chegou a surfar naquela água suja com uma prancha de wakeboard? A arte de rua está aí para lembrar que o espaço público deve ser devolvido a quem pertence: a toda a população.