terça-feira, 25 de agosto de 2015



25 de agosto de 2015 | N° 18273 
LUÍS AUGUSTO FISCHER

AMARGURA ACUMULADA


Por mim, a Dilma deve ficar: por confusa e tensa que esteja a situação, Dilma é a presidente eleita e não cometeu crime algum. Que seu governo seja muito diferente do que ela prometeu, bem, isso é algo que pertence ao mundo da prática política regular, no Brasil e fora. Para não ir longe, veja-se a promessa de não aumentar impostos feita pelo governador Sartori. (Dá para sentir no ar, com clareza, que uma parte dos que querem o impeachment aposta num grande acordo pós-Dilma, para barrar as investigações e livrar a cara de muita gente boa, não da esquerda corrupta, mas da direita e do centro corruptos.)

Mas não é disso que eu queria falar. Tinha a ver com outras coisas, como, por exemplo, o fato de que a crise federal de agora escancara, a meu ver, a natureza regional da dominância do PT. Petistas pensavam que o partido era nacional, mas a crise mostrou que ele é paulista, com sucursais em outros Estados. 

Nada de fora de São Paulo faz sequer cócegas na hegemonia do partido, como se pode ver claramente no caso da Dilma: quem saiu do centro do poder? Foi o núcleo duro do PT, que é paulista: José Dirceu, Pallocci, ponhamos aí os nomes que quisermos. No lugar desses ex-protagonistas, deveriam estar outros petistas, que porém não estão – por inexistirem? Por não terem espaço na cúpula? Por que não quiseram? Por que não puderam?

Eu, que nada entendo de política, fico dando voltas em torno disso, sem entender. Queria falar de outra coisa, que me foge. Nem era da Dilma, nem era dos partidos paulistas, o PT e o PSDB (ok, o PSDB é mais puramente paulista do que o PT). O que era mesmo?

Talvez eu queira apenas registrar a amargura que vai se acumulando em cada um de nós. Gente como eu, que precisa da polícia, mas ela está em greve porque não ganhou salário. Que acredita no Judiciário, mas lembra que mesmo os mais valorosos juízes e promotores aceitaram essa vergonha que é o auxílio-moradia para gente que mora em casa própria (e tem casa na praia, na serra, talvez até em Punta). 

Precisa de atendimento médico, mas amarga horas de espera, ou pior, nem encontra. E assim a escola, e a rua, e o transporte. Tanta coisa que deveria ser presença elementar e cuja ausência a gente vai sentido e recalcando.