sexta-feira, 21 de agosto de 2015



21 de agosto de 2015 | N° 18269 
DAVID COIMBRA

Sartori e Dilma, irmãos na dor


Em Brasília, Dilma queixa-se da oposição irresponsável, para quem “quanto pior, melhor”.

E ela tem razão. Muitos não se importam de ver a população sofrer, desde que o governo federal sofra também.

No Rio Grande do Sul, os que prestam solidariedade a Dilma fazem o mesmo que faz a oposição em Brasília: quanto pior para Sartori, melhor para eles, ainda que crianças fiquem sem aula, ainda que o cidadão fique exposto à violência urbana, ainda que doentes não sejam atendidos nos hospitais.

Tudo vale, para chegar ao poder. Tudo vale, para destruir um opositor. Até o apelo para o nonsense. No Rio Grande do Sul, foi composta a teoria segundo a qual Sartori, se quisesse, teria dinheiro. Mas ele não quer. Na verdade, Sartori seria uma espécie de gênio do mal do liberalismo. Seu plano malévolo é “agudizar” a crise a fim de justificar a venda das empresas do Estado. Tudo faz parte da trama terrível: as empresas privadas, sedentas para se apossar das estatais rentáveis, investiram em Sartori, e ele assumiu pronto para convencer os gaúchos de que esse Estado rico e viável na realidade é pobre e falido.

Primeiro achei que isso fosse matéria daquele site Sensacionalista. Depois vi que as pessoas estavam realmente levando essa ideia a sério. Tanto, que foi proposta uma auditoria nas contas do Estado, provavelmente para conferir se o governador não está mentindo, quando diz não ter recursos.

Mas vamos supor que essa tese exótica seja verdadeira. Diga-me: será que não está acontecendo o mesmo em Brasília? Será que Dilma não é uma agente do capitalismo glutão e está “agudizando” a crise para privatizar o Brasil? Francamente.

Você e eu sabemos como funciona: nenhuma proposta de Sartori será boa para o PT; nenhuma proposta de Dilma será boa para os tucanos. O PT e seus braços nos sindicatos, nas universidades, ONGs e movimentos rurais passarão quatro anos tentando sabotar o governo Sartori. O PSDB passará quatro anos sangrando Dilma no Congresso.

O PT fez desse comportamento a sua marca, e é por isso que experimenta hoje o ódio de grande parte da população brasileira. Para fazer uma única ilustração disso, lembro que o PT se opôs ao Plano Real.

O PSDB, percebendo que a estratégia petista funcionava, apropriou-se dela. Hoje, tucanos criticam um plano econômico que, em linhas gerais, eles colocariam em funcionamento, se tivessem vencido as eleições.

A oposição que protagonizam tucanos e petistas é tão nociva quanto seus governos. Já eu, daqui da insignificância do meu canto, posso não gostar de nenhum deles. Posso ser oposição aos dois.