terça-feira, 18 de agosto de 2015



18 de agosto de 2015 | N° 18265
MAIS ECONOMIA | Marta Sfredo

CENÁRIO NO DAY AFTER


No tenso day after dos protestos de domingo, com o pedido explícito de renúncia feito pelo ex-presidente Fernando Henrique Cardoso, uma dupla identificada com tucanos e petistas deu um exemplo ao Brasil uma conversa de alto nível sobre interesses nacionais. Gesner Oliveira, sócio da consultoria GO Associados que ocupou cargos em governos do PSDB, chamou André Singer, que foi porta-voz da Presidência durante o governo Lula, para avaliar o cenário em teleconferência com clientes e imprensa.

O mais surpreendente, no decorrer da conversa, foi a avaliação de Gesner de que não há base de apoio para impeachment no Congresso e ponderação de Singer de que, na Câmara, “não está muito claro o balanço de forças em relação a um possível pedido de impedimento”. Mais identificado com Lula do que com Dilma, Singer voltou a explicitar sua discordância com o ajuste fiscal aplicado no atual governo, mas ponderou, sobre as críticas à corrupção que brotaram nas ruas no domingo:

– O combate à corrupção está sendo feito, da maneira mais radical a que o Brasil já assistiu. É uma demanda que está sendo plenamente atingida. Não há outras demandas positivas claras, a não ser que a presidente saia.

Singer foi informado durante a teleconferência da nota em que FHC pede a renúncia, que caracterizou de “complicada”.

– Como a presidente tem reiterado que não vai renunciar e o país não está em situação de desgoverno, não entendo essa posição a respeito da renúncia, como se o país precisasse mudança para um programa alternativo que não está claro. Governo fraco também governa.

Singer apontou “fatores de indeterminação” do cenário, como a Operação Lava-Jato, “um elemento inédito na história do país”, que considerou similar à operação Mãos Limpas na Itália, e a situação econômica, que avaliou como “pouco previsível”. Gesner, embora tenha avaliado que não há condições objetivas para impeachment nesse momento, deixou uma reticência:

– A questão é em que condições o governo vai operar nos próximos três anos e meio.

E o Financial Times, que usou apelidos deselegantes para Dilma, avaliou que não há motivo para impeachment. E mais, que se ocorresse, ela seria substituída por “outro político medíocre”.