quarta-feira, 12 de agosto de 2015



12 de agosto de 2015 | N° 18257 
MOISÉS MENDES

O banqueiro


Não sei mais quem é o autor de uma frase que li há muito tempo, quando consumia todo tipo de conselho sobre gestão, nos meus tempos de jornalista de economia, aqui na Zero. A frase era mais ou menos assim: cuide mais do seu negócio e menos do que você pressupõe que seja a sua ideologia.

Porque ideologia, dizia a tal lição, confunde mais do que ajuda quando o que se quer é rentabilizar uma ideia, um produto, um serviço.

Há empresários no Brasil achando que, seguindo a reboque dos que desejam inviabilizar o governo – por golpe, impeachment ou cansaço –, estariam cuidando dos seus negócios. Será?

Outra frase que li dizia que a pior armadilha para um capitalista que produz soja, computadores, queijos, geladeiras, pregos ou salsichas é se afeiçoar pelo banqueiro que o esfola. Quando o sujeito que produz algo pensa que o banqueiro é seu modelo no mundo, a coisa pode ficar feia.

Pois um banqueiro disse, a seu modo, na semana passada, uma frase parecida com aquela lá do começo. Luiz Carlos Trabuco, presidente do Bradesco, afirmou em entrevista à Folha de S. Paulo:

– A ideologia e o preconceito atrapalham, porque, quando a realidade não bate com as suas ideias, em vez de mudá-las, você tenta mudar a realidade. Isso não se sustenta.

Trabuco fala da crise econômica e política. Eu, que ajudo a produzir informação e alguma reflexão, quase me afeiçoo pelo banqueiro. O ex-chefe do ministro Joaquim Levy teme que a ladainha da crise enuvie as ideias dos brasileiros.

Claro que ele fala dos colegas empresários. Trabuco cita a torcida do contra como parte do “ciclo do quanto pior, melhor”. E torce pelos resultados perseguidos pelo governo.

E o seu amigo aquele aí na repartição ou na firma, que torce para que o Brasil acabe na semana que vem, pensa o que da fala de Trabuco? O que dizem os que acham que uma inflação de 9% e um desemprego de 8% são o começo do fim do mundo?

Há uns dois anos, eu li, você leu, todos lemos análises profundas sobre o Brasil, que recomendavam o seguinte: mais desemprego, para segurar a inflação, e câmbio bem acima de R$ 3.

Hoje, os mesmos analistas consideram que os índices de desemprego e inflação são insuportáveis e que o real a R$ 3,50 é o inferno. São os que, na definição de Trabuco, torcem agora pelo pior.

Vou admitir: gostei do banqueiro. Você pode não gostar. Mas deve ter outros banqueiros por aí pensando diferente.