segunda-feira, 17 de agosto de 2015



17 de agosto de 2015 | N° 18264 
DAVID COIMBRA

Você tem direito de se manifestar?


Essa direita, esses burgueses, esses ricos e brancos que saíram aos milhares às ruas no domingo, batendo em suas caçarolas de teflon, esses que acham inconveniente compartilhar aeroportos e restaurantes com quem ganha salário mínimo, esses que vivem no alto das coberturas do Sul Maravilha, de costas para as dores do norte e do nordeste do país, esses todos, o que eles fizeram ontem foi o seguinte:

Foi o certo. Eles merecem aplauso.

Eles têm de ser respeitados. Porque eles também têm o direito de se manifestar. Mais: têm o dever.

Assim é a democracia. Os grupos se organizam e exercem justa pressão na defesa de seus pontos de vista. Ninguém tem mais ou menos direito de se manifestar, seja qual for sua classe social, credo, cor ou procedência.

Se as manifestações deste domingo tivessem sido feitas apenas pela direita e pela burguesia, como alegam, de nariz torcido, os defensores do governo, ainda assim seriam muitíssimo expressivas e muitíssimo válidas. Só que não.

As manifestações não foram protagonizadas só pela direita e pela burguesia. Não houve, nas manifestações, organização partidária ou sindical. E, no sábado à noite, véspera do evento, aquele que em geral é responsabilizado por tudo que ocorre contra o governo, o Jornal Nacional, não deu uma linha sobre a manifestação, a crise econômica ou a política nacional.

Ou seja: foi uma manifestação popular. A verdade é que a grande massa da população do país não aprova o governo e está revoltada com o PT. Quaisquer instrumentos de medida provam isso, das redes sociais às pesquisas de opinião pública. Até alguns dos brasileiros que votaram em Dilma estão contra Dilma. Nunca um presidente foi tão impopular na história do país.

O que isso significa? Significa que Dilma tem de renunciar ou ser deposta? Não.

Significa que Dilma e seu governo precisam mudar. O voto não dá a Dilma estabilidade no emprego, mas lhe dá legitimidade para dialogar com a população, para convocar lideranças e para mexer no que for preciso a fim de corrigir os rumos da administração.

Dilma e todos os brasileiros, inclusive os que a apoiam, têm de saudar a manifestação de ontem, e não assistir a ela para contar negros e pobres, na tentativa de diminuir sua legitimidade. Foi a terceira manifestação do ano contra o governo, o que é bastante eloquente. Mas foi algo além disso: foi uma manifestação gigantesca e contundente como as outras e, como as outras, pacífica. Não houve brigas, não houve prisões, não houve quebra-quebra. Foi uma manifestação dentro da lei, e é dentro da lei que se constrói a democracia.

Existe corrupção no Brasil, mas agora também existe punição à corrupção.

Existe incompetência administrativa no Brasil, mas agora também existe crítica livre à incompetência. Existe revolta no Brasil, mas a revolta é ordeira.

O Brasil está melhorando. Sofrendo, ainda. Chorando, muitas vezes. Gritando, como gritou ontem. Mas melhorando.