sábado, 29 de agosto de 2015



30 de agosto de 2015 | N° 18279 
MOISÉS MENDES

E os que estão soltos?


José Janene era um deputado rico e influente do PP do Paraná. Foi quem indicou Paulo Roberto Costa, um dos famosos delatores da Lava-Jato, para a direção de Abastecimento da Petrobras. Janene, da quadrilha do mensalão, era compadre do doleiro Alberto Youssef, outro delator, operador da lavagem de dinheiro no esquema de propinas do reduto do deputado na estatal. O esquema de Janene teria sido a origem da corrupção da Lava-Jato.

Poucas pessoas conheciam Janene como Paulo Roberto Costa – que devia ao padrinho a indicação a cargo tão importante e que roubava para ele – e como Youssef, parceiro de copa e cozinha e movimentador do dinheiro arrecadado sob as ordens do compadre.

Youssef voltou a dizer, na CPI da Petrobras, na terça-feira, o que já havia dito ao Ministério Público em março – Janene lhe falava da propina mensal que uma empreiteira de Furnas, a estatal de energia, destinava ao então deputado Aécio Neves, do PSDB de Minas Gerais. Uma mesada modesta, de US$ 100 mil a US$ 120 mil, paga entre 1996 e 2000.

E Paulo Roberto Costa contou, na acareação com Youssef na CPI, na mesma terça, que o senador pernambucano Sergio Guerra, então presidente nacional do PSDB, recebeu R$ 10 milhões da empreiteira Camargo Corrêa, em 2009, para melar uma CPI que investigaria as falcatruas na Petrobras.

Costa disse ter sido procurado por Guerra e pelo deputado Eduardo da Fonte, do PP de Pernambuco, e orientado sobre como deveria fazer o pagamento. E fez. E a CPI não saiu.

Mas Janene morreu em 2010 e Guerra morreu no ano passado. Os corruptos tucanos, pelo que contam Youssef e Costa, não são investigados, ou driblam as investigações e a Justiça, ou morrem antes.

Não há tucanos corruptos presos, nem o ladrão avulso Pedro Barusco, que diz ter roubado sozinho na Petrobras durante cinco anos de governos do PSDB. Se não pegam corrupto tucano vivo, imagine se pegarão corrupto tucano morto.

Você conhece aquele parente, colega ou amigo que diz torcer pela Justiça, para que no final o bem vença todos os males, desde que os delatores só apontem o dedo para as gangues petistas. Delatores são sempre desqualificados quando delatam tucanos.

Mas você, que confia na Justiça e aplaudiu Joaquim Barbosa no julgamento do mensalão, certamente confia no ministro do Supremo Marco Aurélio Mello. Marco Aurélio sempre foi criticado por ter assinado o habeas corpus que, em 2000, tirou da cadeia o banqueiro Salvatore Cacciola.

Cacciola, do banco Marka, fora mimado com um estranho socorro do Banco Central, em 1999, e por isso estava preso. Foi libertado e fugiu para a Itália. Em entrevista recente a Roberto D’Avila, na GloboNews, Marco Aurélio respondeu com uma pergunta ao questionamento do repórter sobre a decisão de soltar Cacciola: e os outros do mesmo caso, que continuam soltos?

Cacciola, disse o ministro, pelo menos foi devolvido ao Brasil, preso e cumpriu pena. Mas quantos do mesmo caso continuam por aí? É a dúvida. Quantos, do governo FH, que prestaram socorro a Cacciola e a outros flagelados, num momento de total descontrole cambial, continuam impunes? Por onde andam? – é a pergunta do ministro.

Parece que todos continuam vivos. Daqui a algum tempo, teremos os balanços, inspirados na pergunta de Marco Aurélio, dos desfechos do caso Marka, da Lava-Jato, do mensalão mineiro, de Furnas, das propinas do metrô de São Paulo e de tantos outros episódios, não só para saber quem foi preso e julgado, mas para que se saiba quantos conseguiram escapar e continuarão soltos.