terça-feira, 20 de junho de 2017



20 de junho de 2017 | N° 18876
ARTIGO | DENIS LERRER ROSENFIELD

DILEMAS TUCANOS

De lá para cá, no entanto, o partido ora toma uma posição, ora a sua contrária, para não dizer de outras em que não sabe o que dizer. Prova mais eloquente disso é a postura do ex-presidente Fernando Henrique, multiplicando declarações e entrevistas que sinalizam para as mais distintas alternativas, muitas contraditórias entre si.

Ainda na semana passada, a executiva do partido reuniu-se e decidiu que iria permanecer no governo Temer, não sem antes ter anunciado que se tratava de uma reunião de desembarque desse mesmo governo. O ex-presidente deu seu assentimento a essa decisão.

Ora, dias após desautorizou essa mesma reunião propondo eleições “diretas” para presidente da República e, mesmo, eleições gerais. Em curto espaço de tempo, disse uma coisa e o seu contrário.

A proposta de eleições diretas ou de eleições gerais, além de ser inconstitucional, é inexequível. Jogaria o país em uma situação de máxima instabilidade, parando todas as reformas em curso e lançando uma sombra maior sobre o futuro. Inexequível, pois o tempo que exigiria uma tal mudança constitucional faria com que o novo presidente ficasse pouco tempo no exercício do mandato, na medida em que teríamos novas eleições em outubro de 2018.

Salvo se esta data fosse também trocada, lançando o país na incerteza. Imagine-se, em uma proposta ampla de eleições gerais, convencer governadores, deputados e senadores a abreviarem o seu mandato!

O presidente interino do partido, Tasso Jereissati, não ficou para trás e declarou seu desacordo com a decisão de sua executiva. O desentendimento é generalizado, passando a mensagem de ausência de orientação. Com efeito, como pode um partido ter a pretensão de governar se não guarda a mínima coerência interna?

Note-se, ademais, que o partido nem consegue resolver uma questão interna da máxima importância, que diz respeito ao seu ainda presidente senador Aécio Neves, comprometido em uma gravação de Joesley Batista. Se ele é inocente, cabe ao partido resgatá-lo. Se é culpado, cabe ao partido expulsá-lo. Não faz nem uma coisa, nem outra, mantendo-o no cargo máximo do partido. Torna- se difícil dar lições de moralidade se ela não é observada na própria casa.