quarta-feira, 28 de junho de 2017


28 de junho de 2017 | N° 18883
TECNOLOGIA

No caminho do autoatendimento

AOS POUCOS, CAIXAS em que o consumidor faz o pagamento sozinho passam a se integrar ao cotidiano dos porto-alegrenses

Após parar em frente a um monitor e ouvir uma mensagem gravada de boas-vindas, a professora Adriela Mariath, 40 anos, começou a obedecer as ordens ditadas pela máquina: escaneou o código de barras de cada compra, colocou os itens na sacola, digitou a senha do cartão de débito e validou o ticket de estacionamento. Ela já havia feito compras sozinha nos Estados Unidos, onde viu esse sistema espalhado por mercados e farmácias. Ontem, utilizou o equipamento pela primeira vez em um supermercado de Porto Alegre.

– Achei muito divertido isso – disse, ao colocar o QR Code da sua nota fiscal em um leitor e uma portinha se abrir para que a cliente pudesse deixar o espaço delimitado.

Muito usados em lojas da América do Norte e da Europa, os caixas de self-checkout ainda são poucos na capital gaúcha – um dos exemplos é o utilizado por Adriela, no Zaffari Higienópolis. A promessa, no entanto, é de crescimento.

O Z Café pretende instalar, nos próximos 90 dias, monitores de autoatendimento nas lojas do Tecnopuc e do Hospital São Lucas da PUCRS, ainda não inaugurada. No ponto da Avenida Soledade, bairro Três Figueiras, a empresa tem a tecnologia como opção de pagamento durante o dia, quando também há atendentes, e após o encerramento do expediente – à noite, os produtos seguem expostos em balcões e geladeiras, à disposição dos frequentadores do prédio comercial onde o café está localizado.

– É bom porque, às vezes, a gente fica até mais tarde trabalhando – afirma o desenvolvedor de softwares Nicolas Peixoto dos Santos. – É mais ágil e super intuitivo. O único fator limitador é que só aceita cartão, mas eu quase nem levo dinheiro na carteira – acrescenta.

Quando tiveram a ideia do totem de autoatendimento nas unidades take- away do café – modelo traduzido como “leve embora”, que já tem um perfil mais cosmopolita –, os irmãos e sócios Carlo e Sandro Zanette foram desaconselhados por muitas pessoas: juravam que eles seriam roubados. Mas os empreendedores garantem que a experiência está sendo boa, sem furtos.

– Eles (os clientes) pensam: “O cara está deixando a casa aberta para mim”. Sentem-se até donos, cuidam como se fosse deles – conta Sandro. – No outro dia, não tem nem sujeira nas mesas.

REDE DE SUPERMERCADOS QUER AMPLIAR O SERVIÇO

Faz sete meses que o Zaffari Higienópolis disponibiliza quatro caixas de self-checkout para compras de até 10 itens. Por meio da assessoria de imprensa, o grupo informou que “os equipamentos serão instalados nas maiores lojas da rede”, mas ainda não há data prevista. A empresa garante que não houve casos de utilização do caixa com a tentativa de burlar o sistema e furtar mercadorias.

Adriela, que usou o equipamento pela primeira vez ontem, acredita que, além da habitual demora na chegada de tecnologias ao país, a concepção de que há um “jeitinho brasileiro”, de tentar tirar vantagem, também pode ter atrasado a disseminação desse sistema no país. Fernanda Etchepare, diretora do Sindicato de Hospedagem e Alimentação de POA e Região (Sindha), vê uma tendência de evolução, impulsionada justamente por um sentimento de repulsa à corrupção.

– É uma inovação bem apropriada. O Brasil está vivendo essa onda anticorrupção. É um bom momento para provar que a gente não é assim e começar provando isso nas pequenas coisas – opina.

As empresas que apostam nesse modelo não se valem apenas da confiança: também usam mecanismos para evitar fraudes. No Z Café, há câmeras de monitoramento e todos os dias é realizada a contagem dos produtos. Junto aos equipamentos do Zaffari, sempre há um funcionário no espaço dos caixas de self-checkout, que também auxilia quando ocorre algum problema ou o cliente tem alguma dúvida. Um dispositivo de conferência por peso verifica se a quantidade depositada nas sacolas é compatível ao item registrado, e o cliente ainda passa o código da nota em um leitor na saída.

jessica.weber@zerohora.com.br