sexta-feira, 30 de junho de 2017


Jaime Cimenti
O Líbano no Brasil 

Todos sabemos que o Líbano se transferiu em peso para o Brasil. Esta é a sensação de muitos libaneses que agora vivem por aqui. Na 32ª Bienal de Arte de São Paulo, o artista libanês Rayyane Tabet disse que, desde a sua infância, imaginava que no Brasil cada libanês tinha um sósia que poderia salvá-lo e que, no final das contas, os libaneses "daqui" resgatariam os libaneses de "lá". O território libanês é pequeno, minúsculo. Esteve e ainda está envolvido por muitas desditas e desventuras e também os brasileiros sentem a presença libanesa avassaladora e a grande presença da colônia libanesa, qualitativa e quantitativamente falando. 

No comércio, na indústria, política, finanças, medicina e culinária, entre outras áreas, os libaneses estão presentes. Nas ciências humanas, de modo geral, entre historiadores, antropólogos, atores, autores, linguistas, gramáticos, jornalistas e escritores figuram com destaque os libaneses e seus descendentes. 

Arabia Brasilica (Ateliê Editorial, 166 páginas, tradução de Letizia Zini Antunes e Valéria Vicentini), do professor Alberto Sismondini, subdiretor do Centro de Línguas da Faculdade de Letras da Universidade de Coimbra, trata de alguns grandes escritores brasileiros de origem libanesa ou com ela relacionados, como Jorge Amado, Alberto Mussa, Michel Sleiman e mais especialmente Salim Miguel, Raduan Nassar e Milton Hatoum. Alberto tem estudado com profundidade a literatura brasileira e principalmente investigado sobre autores brasileiros de origem libanesa. 

Ele é autor do ensaio I Cedri del Sertão, publicado na Itália. Os "turcos" e suas representações na literatura brasileira é tema abordado no livro e relacionado com Carlos Drummond, Guimarães Rosa e Jorge Amado. A emigração libanesa contada no Brasil fala de Ana Miranda e do livro Amrik. 

O ensaio mais importante do volume aborda três grandes escritores brasileiros de origem libanesa. Salim Miguel, autor de Nür na escuridão, a história de sua família marcada pela diáspora; Milton Hatoum, nascido na Amazônia e autor de Relato de um Certo Oriente e Dois Irmãos; e Raduan Nassar, autor de poucos livros, mas de grande repercussão, como Lavoura arcaica e Copo de cólera. 

O autor analisa profundamente a obra dos três grandes autores, relaciona-as com outras obras de ficção e de crítica literária e apresenta estudos de outros especialistas, como Leyla Perrone-Moisés, que estudou Lavoura Arcaica e o candente tema do incesto. Com o estudo do autor, às três Arábias do mundo clássico acrescenta-se, então, uma Arabia Brasilica, que dá título à obra. Diante da importância da colônia libanesa no Brasil e do porte de escritores de origem libanesa, deve ser saudada a obra. 

lançamentos 

Correr com Rinocerontes (Não-Editora, 290 páginas), do escritor e professor Cristiano Baldi, romance bem estruturado, com temática forte e linguagem criativa, narra sobre as andanças de um gaúcho que volta de São Paulo para enfrentar problemas familiares no Sul. Victória - Uma saga italiana no interior do Rio Grande (AGE Editora, 478 páginas), da atriz e bailarina porto-alegrense Ana Guasque, é um grande e denso romance sobre uma família imigrante italiana que deixou como legado uma cidade no Pampa: Chiapetta. 

O Um - inquérito parcial sobre o caso Ingo Ludder (Editora Bestiário, 160 páginas), do sociólogo e escritor Antonio D. Cattani, traz uma sedutora e movimentada novela policial. Na contracapa, uma frase para alertar e instigar os leitores: "e se isto não for uma ficção?". - Jornal do Comércio (http://jcrs.uol.com.br/_conteudo/2017/06/colunas/livros/570645-o-libano-no-brasil.html)