quarta-feira, 14 de junho de 2017





14 de junho de 2017 | N° 18871

RELIGIÃO

Devoção pelo santo casamenteiro

MILHARES DE PESSOAS acompanham a festa anual ao popular Antônio de Lisboa, também conhecido por pregar a humildade

Nem a limitação provocada por um AVC que paralisou todo um lado do corpo, nem os 90 anos completados ontem desestimularam Maria Antônia Oliveira Penteado, do bairro Passo D’Areia, de estar naquele que considera o evento mais importante do ano: a festa de Santo Antônio – também conhecido como Antônio de Lisboa ou como Santo Antônio de Pádua. Devota desde que nasceu, justamente no dia do santo, 13 de junho, foi batizada com o nome em homenagem ao protetor e nunca deixou de participar dos festejos. Mesmo depois que, há 10 anos, foi acometida pela doença que comprometeu movimentos e fala. Passou a ser levada, em cadeira de rodas, pela filha, a bancária Delci Oliveira Cadury, 54 anos.

– Para ela, a comemoração do aniversário é sagrada, na festa de Santo Antônio. É uma emoção muito grande, porque sabemos o quanto, mesmo diante de todas as adversidades, a fé dela se manteve inabalada. É isso que nos motiva a seguir em frente e a vir todos os anos, faça chuva ou faça sol – conta, emocionada, Delci, limpando as próprias lágrimas e as da mãe após receber a benção de um frei capuchinho com direito ao Parabéns a Você entoado em coro pelos presentes.

Assim como Maria Antônia, outras milhares de pessoas compareceram ontem aos festejos da Igreja Santo Antônio do Partenon, em Porto Alegre, que contou com missas de hora em hora, procissões, distribuição de pães e bênção religiosa. Fé era palavra de ordem entre os presentes e, por toda parte, o que se via eram pessoas enfrentando todo tipo de dificuldade para estar lá, fosse de distância, de locomoção ou física. Muitos diziam estar no local para agradecer por alguma bênção alcançada, e tantos outros para pedir por saúde e trabalho, especialmente.

– Já pedi pela saúde do meu pai, de 88 anos, em um momento importante, e fui atendida. Fé e humildade são as principais lições que Santo Antônio nos deixou. Por isso, temos de ser gratas – diz a aposentada Maristela Brandão Schramm, 58 anos, do bairro Jardim Planalto, que estava acompanhada da cunhada, Zeluza Schramm Palma, 56 anos, aposentada de Cachoeirinha, e da prima delas, Maribel Figueiredo Accorsi, 54, também aposentada, do Jardim Lindoia.

– Viemos juntas todo ano. Doamos pães, assistimos às missas, recebemos as bênçãos. Saí de Porto Alegre há seis meses, mas nunca deixarei de vir para a festa – diz Zeluza.

ATÉ A TARDE DE ONTEM, MAIS DE 50 MIL PÃES FORAM DISTRIBUÍDOS

O frei noviço Julio Trindade, 21 anos, que abençoava os fiéis, acredita que a crise econômica e a violência que assolam o país acabam sendo estímulos ao exercício da fé.

– É no momento de turbulência que ela se fortalece. As pessoas pedem por mudança, e, para quem tem fé, a esperança nunca é abalada – afirma Trindade.

Mas o noviço também ressalta a procura por uma das virtudes mais conhecidas de Santo Antônio, a sua face casamenteira:

– Já atendi duas pessoas que pediram um namorado. Eu disse que, se for da vontade de Deus, elas o encontrarão (risos).

Por volta das 16h de ontem, mais de 50 mil pães abençoados já haviam sido distribuídos. A estimativa era de que, até o final da noite, o número chegasse a 100 mil.

– A fome é a principal questão. O pão vem para saciá-la e representa fatura, bem- estar, saúde. Santo Antônio disse que, a quem tivesse fé, não faltaria o pão – explica a irmã Maria de Lourdes Becker, 66 anos, que atua no festejo desde 2005.