quinta-feira, 29 de junho de 2017


29 de junho de 2017 | N° 18884
ARTIGOS | GILBERTO STÜRMER

ESPAÇO MEU. ESPAÇO NOSSO

Como não ser triste o ambiente acadêmico, onde se deve zelar pelo conhecimento, educação e excelência, ainda contratar os que andam no sentido contrário do que é urgente: a promoção da diversidade?

Eu já fui âncora de dois telejornais, inclusive um deles na universidade e outro em rede nacional. Mas tive pais, mestres, colegas e um orientador que sempre me encorajaram. Nunca me alisavam os cabelos, nunca maquiaram minha pele com uma cor que não me honrasse, não me obrigaram a mudar minha personalidade, nem me afastaram do que me levou para o jornalismo: a cultura marginal, o skate, o hip hop, a arte urbana, a rua.

Neste novo momento no Grupo RBS, como repórter de cultura e comportamento para o Jornal do Almoço, tenho mais uma vez espaço para minha bagagem de 37 anos, mas não é só pra mim. É pra mim e pra ti que escutou de professor que não pode/não será porque tem a pele preta.

Pra ti que carrega a bandeira de arco-íris e luta para ser aceito num corpo em que tu não te reconhece. Pra ti que é trans, que é bi, que é rua, que embala o skate e que tem os dedos sujos de spray e canetão. Pra ti que entra na lojas e não se vê nas vitrines, e a modelagem das peças não cabem no teu corpo “fora do padrão”.

Pra ti que compra de marcas locais e reforça a moda com mão de obra justa. Pra ti que aprova teu evento em cima da hora porque até então não tinha patrocinador e realiza na “guerreiragem” com as caixas de som na rua. Esse novo espaço é pra mim e pra ti, porque pra gente que sempre precisa provar mais, meu espaço é nosso. Eu só sei ser assim: nós por nós, pela música, pela arte, pela cultura para todos e todas. #resistência

“Sou porta-voz de quem nunca foi ouvido. Os esquecidos lembram de mim porque eu lembro dos esquecidos.” – Emicida

REFORMA TRABALHISTA E MODERNIDADE

O projeto de lei de reforma trabalhista, em nenhum momento, retira direitos fundamentais dos trabalhadores empregados (convido àqueles que não o leram, que o façam). O PLC 38/2017 mantém integralmente os direitos sociais trabalhistas – as chamadas cláusulas pétreas da Constituição de 1988. Não fosse a questão formal (lei não pode alterar a Constituição), o conteúdo existente não só moderniza as relações de trabalho como amplia direitos para aqueles que hoje estão fora do sistema.

A CLT não está sendo “rasgada”, mas, sim, melhorada e adaptada à realidade atual. Não é verdade que a jornada passará a 12 horas – a Constituição fala em oito horas; não é verdade que direitos como férias, 13º salário e FGTS serão suprimidos. Pelo contrário: pessoas que hoje não estão contempladas com esses direitos, mas que estão no mercado, como os trabalhadores intermitentes, terão direito a férias, gratificação natalina e FGTS.

O tão propalado “negociado sobre legislado” trata de questões corriqueiras e que pretendem adaptar as diversas categorias à sua realidade. A Convenção Coletiva de Trabalho com força de lei tratará de jornada, respeitados os limites constitucionais, intervalo, plano de cargos e salários, regulamento empresarial, teletrabalho, remuneração por produtividade, prêmios e incentivos, além de outros direitos. O mesmo texto proíbe expressamente as negociações coletivas que tenham objetivo de suprimir direitos.

Por fim, e talvez o mais importante e que incomoda tanta gente, tentando abrir as portas para uma efetiva liberdade sindical – que ainda não virá –, o projeto vai acabar com a contribuição sindical obrigatória, câncer do sindicalismo brasileiro.

Convido a todos a lerem o projeto e constatar as realidades aqui referidas.