quinta-feira, 8 de junho de 2017



08 de junho de 2017 | N° 18866
ZONA NORTE

We are waiting for you, people

EMPOLGADOS COM A ABERTURA DO CONSULADO dos Estados Unidos, a partir de hoje, comerciantes das imediações apostam em novos empreendimentos

Prestes a iniciar o atendimento ao público em geral, que começa hoje, o Consulado dos Estados Unidos, na Avenida Assis Brasil, em Porto Alegre, já motiva viagens. De olho nas oportunidades criadas pela emissão de vistos, comerciantes da região foram a outros Estados para ver de perto o funcionamento dos consulados norte-americanos e identificar possíveis maneiras de lucrar com a chegada do novo vizinho.

Proprietário de quatro estacionamentos na Rua Andaraí, atrás do consulado, o empresário Tiago Guerrieri, 39 anos, foi um dos que não perderam tempo. Ao saber, pela imprensa, que o departamento do Tio Sam se instalaria nas proximidades, tratou de ampliar seu negócio. Em 2015, ele abriu o quarto ponto com vagas para veículos na mesma rua onde possui outros três e atua há mais de 15 anos:

– Está tudo tão ruim que cair um negócio desses próximo do teu comércio gera uma expectativa enorme. Todo mundo está ajustando alguma coisa.

Empolgado com a chance de aumentar a clientela, Guerrieri foi mais longe. Meses atrás, tomou um avião rumo a São Paulo para descobrir que outros nichos de mercado o consulado poderia movimentar. A empreitada o lançou em um novo ramo: em dezembro, inaugurou uma hamburgueria na Rua Bezerra de Menezes, a poucos metros do prédio. Os constantes adiamentos da operação do consulado, porém, frustraram a expectativa dos primeiros meses, marcados por mesas vazias:

– Penei esperando por eles. Agora, o movimento está melhor. Os funcionários gostaram. Vou fazer um cardápio em inglês. Mas eles sabem mais ou menos o que são as coisas, apontam. Bacon, essas coisas, eles conhecem.

Perto da hamburgueria de Guerrieri, Alexandre Tomasel, 44 anos, corria para dar os últimos retoques na cafeteria Garden Coffee, inaugurada na segunda-feira. O empreendimento não foi sua única aposta na chegada do consulado. A poucos metros do local, na mesma rua, ele abriu outro café em 2016.

Seu ímpeto empreendedor também passou por uma pesquisa de mercado. Em dezembro, ele esteve por dois dias no Rio de Janeiro para estudar possibilidades de negócio perto do departamento norte-americano. Hospedou-se em um hotel nas proximidades e monitorou a atividade na vizinhança.

– Eu ia às seis horas da manhã para lá, sentava em um café que tem na frente e ficava observando. Uma vez contei quantos vistos deram: 970 até as 9h30min – relata.

GUARDA-VOLUMES E CARDÁPIOS BILÍNGUES

Do monitoramento na capital carioca saiu a ideia para o que deve ser um dos principais diferenciais de seus dois cafés: o serviço de guarda-volumes. Informado sobre restrições para o acesso ao local, que não permite a entrada com diversos tipos de objetos, incluindo relógios e aparelhos de celular, Tomasel instalou armários com compartimentos para guardar esses equipamentos.

Para não fazer feio no atendimento, ele ainda providenciou cardápios bilíngues e investiu em um curso intensivo de inglês para si e para os funcionários. Tomasel acredita que as aulas, que ocorreram de janeiro a maio, foram suficientes para as primeiras abordagens.

– Agora, a gente tem alguns macetes para atender eles, tipo slowly (lentamente), que é para dizer quando eles começarem a falar, para falarem mais devagar. Mas acho que o cliente, vendo que a gente tem boa vontade, já é um jeito de cativar – avalia.

Se os espíritos mais empreendedores andam inquietos, também há os indiferentes. A despeito do que indica um cavalete ostensivo anunciando um xerox em frente ao número 71 da Rua Bezerra de Menezes, Jorge Sperb Morandi, 32 anos, não traçou um plano para capturar clientes que eventualmente precisem de cópias de documentos – exigidas para alguns vistos. Sócio de uma assistência técnica no primeiro andar do prédio, ele diz que a demanda para esse serviço costuma ser pequena, e está longe de ser o foco de seu estabelecimento, voltado ao conserto de computadores. Apesar da falta de estratégia, Morandi vê com bons olhos a possibilidade de movimentar os negócios.

– Escolhemos o lugar, no ano passado, pelo preço e pela localização, perto da Assis Brasil. Só temos uma copiadora, que colocamos para atrair as pessoas e divulgar o serviço de assistência – afirma. – Na verdade, é bem difícil alguém aparecer aqui por causa do xerox. Agora, acho que vai ser uma consequência inevitável. Mas a impressora estragou, está no conserto – diz.

bruna.vargas@zerohora.com.br