quarta-feira, 28 de junho de 2017



28 de junho de 2017 | N° 18883 
DAVID COIMBRA

Por que o guardanapo sobre o copo?

Aquele perito que o Temer contratou para analisar a gravação de sua conversa com o Joesley, você se lembra dele? Um de rabinho de cavalo, que disse que a gravação era “imprestável como prova”. Quando ele apareceu, de microfone em punho, fazendo seu relatório, me impressionei pelo seguinte: ele usa suspensórios E cinto. Ou seja: um adepto da segurança máxima. Todas as calças cairão antes das que ele usa. Eis um homem que mantém suas cuecas em absoluto salvaguardo da curiosidade alheia. Isso me encheu de respeito. Pensei: um homem que se cuida tanto deve saber o que diz.

Porém, os peritos da Polícia Federal deram fiança à gravação. Asseguraram que ela não tem edições e até já acusaram Temer de corrupção. E agora? De que adiantou fechar o meio-campo com a combinação de cinto e suspensórios? O perito de Temer ficou sem calças.

O próprio Temer. Olhe para ele. Já o entrevistei, passamos o dia juntos, rodamos no mesmo carro pelas ruas congestionadas de São Paulo, nós dois no banco detrás, conversando sobre a vida, a política e a poesia. Vi nele o que você vê: trata-se de um homem empertigado, formal, de gestos suaves. Um homem precavido. Tanto, que coloca um guardanapo de papel sobre o copo d’água, quando está à mesa, nas cerimônias públicas. Por que será? Medo de que algum inseto suicida se atire na água? Medo da poeira do ambiente? Até meu filho reparou nesse hábito de Temer, vendo-o pela TV. Outra noite, durante o jantar, ele pôs o guardanapo na boca do copo d’água.

– Que é isso? – perguntei. E ele, pondo-se bem ereto:

– Eu sou o presidente do Brasil.

Mas, apesar de toda a cautela, Temer caiu na cilada de Joesley e está todo atrapalhado com a Justiça. Ontem mesmo foi à TV, dar explicação. Situação chata para um presidente.

Olhando assim, em perspectiva, cogito: será que Temer não preferia que não tivesse havido impeachment algum e que Dilma continuasse presidente? Nesse caso, ela é que seria o alvo.

Dilma, aliás, foi mais cautelosa do que Temer. Usou aquele método de trocar mensagens com a Mônica Moura por meio da caixa de rascunho de uma conta de e-mail comum. Muito engenhoso. E Lula foi mais cauteloso ainda. Não registra nada em seu próprio nome e nem celular diz que tem, embora a Polícia Federal tenha apreendido nove celulares na casa dele. Nove celulares! Cá para nós, um cara ter nove celulares já é confissão de culpa.

Lula está mais enrolado até do que Temer, mas o presidente do PT do Rio, um certo “Quaquá”, anda pregando “luta aberta nas ruas”, caso ele seja condenado pela Justiça. Quer dizer: o Quaquá é o oposto de um homem que usa cinto e suspensórios, de um que tem nove celulares, de um que tapa o copo com o guardanapo ou de uma mulher que usa a caixa de rascunhos para se comunicar. O oposto. Quaquá é um temerário. Se Lula for condenado, Quaquá sairá por aí, lutando, dando tiro nas pessoas. Um perigo.

O temerário é perigoso, os cautelosos são perigosos. A vida é perigosa, no Brasil.