sábado, 24 de agosto de 2019



24 DE AGOSTO DE 2019
BEM-ESTAR

A DOCE SUBVERSÃO DE SER FELIZ

Crianças conversam com amigos invisíveis. Adultos conversam com a Siri, a Alexa e quem mais estiver ouvindo por aí. Pequenos devices, amigos tecnológicos quem te informam tudo o que você quer saber e se informam de tudo o que você disser.

Qualquer um de nós no planeta pode ser facilmente localizado pelo Google, filmado pelo Google Earth e seguido em todas as redes sociais por quem estiver interessado nisso.

O que você pensa, diz e faz, quem você é, o que você gosta, compra e deseja comprar está devidamente computado e é simples de catalogar nos algoritmos do analytics.

Dados pessoais não são segredo para ninguém. Sua vida interessa. Vidas humanas importam na medida em que possam ser manipuladas.

Nesse admirável mundo novo, superamos em muito as previsões alarmantes de 1984, do Orwell, e o Big Brother se tornou uma fórmula de TV aparentemente inofensiva.

Mas somos todos vigiados e ninguém pode se esconder dessa grande angular em massa que marca cada movimento nosso. A fotografia do seu carro no sinal, sua entrada no banco ou no shopping, o registro de todas as suas atividades já é captado e em breve seremos todos filmados por uma câmera coletiva e abrangente como um wi-fi permanente no ar, captando som e imagem de todos os cantos da cidade.

Sempre fui fã de ficção científica, meu gênero favorito, e hoje detecto apreensiva que tantas ideias ficcionais foram superadas por uma presença maciça e invasiva na nossa realidade.

A Inteligência Artificial nos supera e vai conseguir simular a sinceridade das nossas emoções, a ponto de se tornar um de nós. Talvez nós mesmos vamos nos tornar essa inteligência programada instalando chips subcutâneos que podem transformar nossas funções e a nossa complexidade humana vai ser parte operacional dessa imensa plataforma de programação.

A humanidade opera num sistema de crença. Somos feitos para acreditar em alguma coisa. Nossas mentes e nossos sentimentos abraçam com facilidade tudo aquilo em que acreditamos.

Servimos a religiões, exércitos, ideologias e talvez tudo isso em breve seja substituído pela máquina pensante do grande sistema que vai programar a nossa espécie.

Talvez esse futuro perfeito seja pacífico, funcional e consiga finalmente organizar a nossa sobrevivência.

Mas enquanto nada disso acontece, vamos aproveitar cada momento imperfeito e usar nossas doces imperfeições. Vamos fugir da rigidez das regras, brincar, dar mais risada, olhar o céu, as estrelas, o mar, olhar os lírios dos campos, observar os detalhes da natureza, seu sofisticado design, amar os bichos, as crianças, ter amigos de verdade, acompanhar as mudanças das estações, se apaixonar, beijar, transar, viver um grande amor.

Vamos usar melhor o nosso tempo, cada momento presente é um presente. Expandir nossos sentidos e compreender que a liberdade de ser, pensar e dizer é uma conquista. A nossa privacidade se torna um bem precioso numa era em que os dados pessoais são a grande moeda.

Descobrir quem de fato somos e o que queremos é um privilégio só nosso. Nessa nossa jornada de autoconhecimento o que realmente importa é sentir a doce subversão de ser feliz.

Bruna Lombardi escreve a cada 15 dias neste espaço. Na próxima semana, leia a coluna de Monja Coen.
BEM-ESTAR

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