sexta-feira, 30 de agosto de 2019



Churchill, Orwell e a luta pela liberdade

Neste mundo velho sem porteira, as milenares questões da liberdade e da verdade seguem dominando a história e, entre idas e vindas, as aberturas e os fechamentos, as democracias e as ditaduras de vários tipos, os debates e as ações seguem, acalorados.

Churchill & Orwell - A luta pela liberdade (Editora Zahar, 336 páginas, tradução de Rodrigo Lacerda), best-seller do The New York Times, do consagrado jornalista Thomas E. Ricks, especialista em assuntos militares, em segurança nacional e participante de equipes ganhadoras do Prêmio Pulitzer, é uma oportuna e interessantíssima biografia dupla do estadista e escritor Winston Churchill e do genial escritor George Orwell, autor, entre outros, das obras-primas 1984 e A revolução dos bichos.

O primeiro-ministro Churchill era filho de aristocratas e liberal conservador aliado ao governo colonialista britânico. Orwell vinha da classe média baixa, era militante socialista e fortemente anti-imperialista. Os dois homens tinham posições políticas muito diferentes, mas com um princípio em comum: a luta pela liberdade.

Ao entrelaçar as biografias dos dois, Ricks, centrando a ação nas décadas de 1930-1940, mostra como eles saíram de posições precárias para triunfar sobre os inimigos da liberdade. Churchill pode ter desempenhado o papel mais importante na derrota de Hitler, mas os livros imortais de Orwell seguem sendo assombrosos tratados antiautoritários.

Churchill e Orwell, homens extraordinários, aliados inesperados, hoje tão importantes como naquelas décadas críticas do século XX, com suas ações e com seus textos, influenciaram de modo decisivo não apenas a cultura e a política de sua Inglaterra natal, mas de todo o Ocidente. Em uma Europa do fim dos anos 1930, com democracia desacreditada, que parecia destinada à ditadura, fosse nazifacista ou comunista, os dois homens notáveis estavam em posição solitária e marcaram os rumos da história. Eles nunca se encontraram, mas suas visões sobre liberdade, sociedade e limitações da política convergiam e seguem inspiradoras.

Queimadas

No mundo, queimadas devem ser mais antigas que andar a pé. Com origem em causas naturais, como ventos fortes e secas, ou com origem em causas humanas, como deixar restos de fogo nas florestas, atirar tocos de cigarro acesos e utilizar fogo como técnica agrícola, as queimadas são antigas. No Brasil, os índios já utilizavam as queimadas antes de o homem branco aparecer por aqui.

Em vários países do mundo, como Estados Unidos, Portugal e França, só para citar alguns, queimadas acontecem. Claro que ninguém, em sã consciência, pode ser a favor do desmatamento ilegal e de queimadas, sejam elas de que tipo for. Ninguém pode querer o fim da natureza e do mundo. Já em 1976, em seu livro Manifesto ecológico brasileiro: o fim do futuro?, o agrônomo José Antônio Lutzenberger (1926-2002), que, durante décadas, trabalhou para a Basf vendendo adubos e depois se tornou ambientalista e foi ministro do Meio Ambiente, alertou as pessoas para a gravidade da situação ambiental.

Não chega a ser muito estranho o exagero das repercussões nacionais e internacionais sobre as queimadas no Brasil da atualidade. Como já foi dito no Começo de Conversa do Jornal do Comércio de 27 de agosto, Monsieur Macron e Frau Merkel têm lá interesses muito além de preocupações com a ecologia, em vista da ameaça no acordo Mercosul-União Europeia.

Ajuda internacional, preocupações com a natureza, legislação ambiental para todos no mundo - especialmente para os países que muito destruíram a natureza - obviamente são desejáveis, e precisamos defender a natureza como um patrimônio e uma questão de sobrevivência mundiais. Todavia, a soberania brasileira sobre seu território amazônico não pode ser violada, e os outros países devem respeitá-la.

Lembro de uma piada, lá dos anos 1960. O brasileiro foi pedir dinheiro emprestado para o Tio Sam. Aí o Tio perguntou, com muitos erres: "Mas o que me darrr em trrrroca, brasileirinho?". "Bom, quem sabe lhe dou a Amazônia", respondeu o brazuca, e, aí, o Tio Sam falou: "Malandrrrrinhoo você, querendo dar o que já é meu...".

Claro que se espera que diálogos sobre a questão sejam em alto nível e não resvalem para ataques pessoais. O certo é que a questão deve ser tratada com racionalidade, seriedade e números confiáveis. É preciso avaliar muito bem os interesses do governo, dos legisladores, dos índios, dos investidores e de organismos internacionais. Num mundo como o nosso, com mil verdades e versões, não é tarefa das mais fáceis, mas é preciso ir adiante.

Fico pensando em como está o gigantesco Projeto Jari, envolvendo 1,5 milhão de hectares, iniciado pelo bilionário norte-americano Ludwig e que depois foi repassado a empresas privadas brasileiras. Vou pesquisar, dizem que não deu certo.

Aliás, existe uma mística que diz que a floresta se vinga das pessoas e empresas que estão lá só para explorá-la e ir embora, sem se preocupar com seu futuro. Será?

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