sábado, 17 de agosto de 2019



17 DE AGOSTO DE 2019
JJ CAMARGO

A ESPERANÇA NUNCA DESISTE

Esperar é uma sina com a qual convivemos sempre - e que pode se transformar na nossa fortaleza
Fomos concebidos para esperar, e dependendo do nosso teor de credulidade, passamos a vida fazendo isso. E, alguns, apenas isso.

Esperamos que tudo dê certo, que a dor passe, que o amor volte, que o patrão valorize nosso trabalho, que o filho nasça sadio, depois cresça com boa cabeça e faça sucesso, que fale dos pais com orgulho, que aprenda a amar quem lhe ame, e nunca, mas nunca, morra antes da gente.

Esperamos que o nosso time seja campeão, que o país melhore, que os hipócritas se cansem e os dirigentes eleitos o façam por merecer. Que envelheçamos com saúde e que, quando não for possível evitar a biópsia, que a lesão seja sempre benigna.

Esperamos com angústia que o motor não apague na avenida alagada e que os dois tipos que se aproximam da janela quando estacionamos o carro no meio fio sejam apenas brasileiros honestos em busca de uma informação inocente.

Esperamos que Deus use critérios mais compreensíveis de seleção de quem mereça viver e nos poupe da perplexidade de ver pessoas maravilhosas morrendo de acidentes estúpidos e os canalhas envelhecendo com cabelos de uma cor que não existe na natureza e o sorriso assimétrico do botox.

Esperamos que o cinismo seja banido, que a sinceridade prospere e que as pessoas tenham sensibilidade de perceber que é preferível o tosco sincero do que o diplomata mentiroso. Esperamos que os nossos amigos sejam complacentes e relevem nossos rompantes e perdoem as nossas intransigências e grosserias, e em troca prometemos acreditar que eles também melhorarão, mesmo que isso signifique modificar o caráter, e saibamos, desde sempre, o quanto essa expectativa é fantasiosa.

No desespero, somos capazes de jurar generosidade no futuro, que convenientemente começará no instante dessa nossa última promessa. Ou seja, agora.

É difícil quantificar o significado da esperança na vida de alguém, mas, dependendo das circunstâncias, pode ser o mais poderoso dos nossos frágeis sustentáculos e que, quando todo o resto se esvai, se transforma apenas numa tênue fibra que mantém o alento balançando sobre o precipício, entre o improvável e o delirante, e que na doença grave, muitas vezes, se apoia no último baluarte do socorro: o milagre divino.

O João Afonso, um parceiro de toda a vida, era um ateu assumido, estava morrendo de câncer e sentia muita dor. Fui visitá-lo e, ao vê-lo sofrendo, com doença disseminada nos ossos, me dispus apenas a ouvi-lo, pela mais triste das razões: eu não sabia o que dizer. No fim, ele me consolou:

- Calma aí, seu chorão. Ainda não terminamos por aqui. Vou te contar uma novidade: ontem uma freirinha passou por aqui e me deu esta oração de Santo Expedito, e você não vai acreditar, mas quando acordei de madrugada, com muita dor, tomei dois comprimidos de morfina e vi que a oração tinha ficado embaixo do copo d?água. Como não sei rezar, resolvi lê-la, e juro que a dor passou muito antes do tempo que a morfina demora para funcionar. E sabe que me deu uma esperança? Desse tamanhinho, mas, ainda assim, minha esperança!

JJ CAMARGO

Nenhum comentário:

Postar um comentário