sábado, 24 de agosto de 2019



24 DE AGOSTO DE 2019
RODRIGO CONSTANTINO

Mensagem e mensageiro

Há uma diferença entre a mensagem e o mensageiro. Muitos preferem atirar neste para matar aquela. Não funciona. Uso como exemplo dois fenômenos que são similares: Trump e Bolsonaro. Ambos representam uma mensagem legítima, uma reação até saudável, que deve ser escutada e absorvida, por mais que a pessoa tenha aversão aos seus estilos.

Trump e Bolsonaro podem ser toscos, fanfarrões, e às vezes se excederem na forma e no conteúdo. Mas o que representam é uma espécie de "dedo do meio" para aquilo que se denomina establishment, incluindo a grande imprensa, a academia e a classe política. O nacional-populismo que expressam vem combater anos de bolha "progressista", de arrogância e hegemonia da esquerda, que trata seus adversários com desprezo e desdém.

Os "deploráveis", segundo Hillary Clinton, ou os "alienados" que teriam votado em Bolsonaro, para a imensa maioria dos jornalistas. Será mesmo isso? Após tanto tempo monopolizando as virtudes e demonizando conservadores, tratados como radicais e jogados no mesmo saco podre de nazistas, essas pessoas comuns, de classe média, informadas pelas redes sociais, expressam sua revolta por meio desses votos.

Roger Eatwell e Matthew Goodwin, em National Populism: The Revolt Against Liberal Democracy, argumentam que o fenômeno é mais estrutural do que parece, e as reclamações desses eleitores, muitas vezes, são legítimas. Ignorar isso só vai levar a previsões equivocadas. É o mesmo ponto do historiador Victor Davis Hanson em The Case for Trump.

Entender o fenômeno não é o mesmo que endossá-lo. Mas pode ser fatal atirar nos mensageiros e fechar os olhos para a mensagem. Os populistas de direita podem errar em muitas receitas, mas adotam um diagnóstico um tanto correto para vários problemas que são ignorados pelos "progressistas".

O globalismo, o feminismo, a ideologia de gênero, o viés ideológico da mídia, a histeria ambientalista, todos são problemas reais. Quando o establishment trata essas críticas como paranoia de maluco, está alimentando a reação populista. Você pode não engolir o estilo desses líderes, mas é recomendável que preste atenção naquilo que seus seguidores estão condenando.

RODRIGO CONSTANTINO

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