quinta-feira, 14 de março de 2019



14 DE MARÇO DE 2019
DAVID COIMBRA

O que fizemos para merecer essa nova dor?

O Brasil não merecia mais essa dor. Já sentimos tantas. Há tanta violência, tanta maldade entre nós. E, agora, uma chacina em uma escola. Crianças mortas a tiros. Esse tipo de horror não nos acometia antes e ultimamente tem se repetido.

O que está havendo?

Escrevi sobre "merecimento". Muitas coisas boas ou ruins nos acontecem sem que as mereçamos. Deus, Zeus, Alá, o Karma, o destino, o Cavalo Celeste, seja lá o que for ou no que você acredite, nada disso faz diferença. Não há nenhuma entidade transcendental nos vigiando, punindo nossas más ações e premiando as boas. Se houvesse, porque o mal viceja em toda parte? Se houvesse, como explicar que crianças inocentes sofram? Se houvesse, como é permitido ao leão devorar o gnu?

Há desgraças, porém, que são decorrência do nosso comportamento. Será o caso?

As pessoas que cometeram o massacre em Suzano eram perturbadas, óbvio. Gente perturbada há em todo lugar, houve em todo tempo e sempre haverá. A vida não é fácil. Mas a perturbação mental em geral é solitária. Uma alma atormentada comete desatinos em busca de alívio, ainda que o alívio seja a própria morte. Isso é muito particular. Muito pessoal. Só que na tragédia de Suzano houve um consórcio entre dois assassinos. Como se explica? Será que os crimes não ocorreram para fazer cessar uma dor da alma, e sim por outra motivação, mais rasteira, mais material, como um produto da vaidade ou uma gana de grandeza?

Será que foi isso?

E, se retroagirmos um pouco, veremos que, no ano passado, houve o caso da igreja de Campinas e o da escola em Medianeira, no Paraná. E, em 2017, o da creche de Minas.

Por quê? O que existe de diferente no século 21 do Brasil? O que mais estamos fazendo de errado, além de tudo o que sempre fizemos?

Nos Estados Unidos ocorreram mais de 20 ataques semelhantes no ano passado, mas os Estados Unidos são uma nação bélica, em muitos lugares você entra em um shopping e sai de lá com uma pistola na cintura. São mais de 300 milhões de armas no país. Quer dizer: um louco tem muito mais acesso a armas nos Estados Unidos do que no Brasil. E um louco armado é terrivelmente mais perigoso do que um desarmado. Logo, ataques do tipo do que se deu em Suzano são bem mais frequentes.

Ainda assim, começamos nós, brasileiros, a experimentar essa nova modalidade de sofrimento. Antes, podíamos suspirar de alívio por não termos sentido nunca tamanha dor. Podíamos dizer que nossas crianças estavam a salvo nas escolas. Agora não mais. Agora há outro padecimento, outro horror. Um novo horror. Não bastava o que já havia? Será que merecemos? O que fizemos, meu Deus?

DAVID COIMBRA

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