segunda-feira, 18 de março de 2019


18 DE MARÇO DE 2019
CELSO LOUREIRO CHAVES

ÁLIBIS
Poucos anos têm tantas celebrações na música brasileira de concerto quanto 2019. Sobre os 80 anos de Marlos Nobre já falei e talvez volte ao assunto um dia desses. Desde que escrevi, voltei à partitura da minha música que uma vez ele regeu com a Ospa e minha admiração só cresceu, pela paciência dele com o compositor jovem que eu era no século passado.

Talvez a celebração mais importante do ano seja o centenário de Cláudio Santoro, compositor de Manaus ainda pouco tocado. Mas as coisas vão pro lugar: a série de álbuns que o Ministério de Relações Exteriores está lançando promete o registro integral das sinfonias de Santoro, que uma vez conheci em Brasília - onde ele trabalhou por anos - numa circunstância burocrática, distante da música, mas que por causa dele se tornou prazerosa.

Santoro foi compositor variado em estilo e ideologia e a música vai da eletrônica ao sinfônico num piscar de olhos, sem hesitações.

Celebrações servem para isto, são álibis para ouvir música que há muito não se ouvia, ou mesmo que nunca se ouviu, escrevendo mais um capítulo da mal contada história do Brasil em música de concerto. Mais para o final do ano, há os 60 anos da morte de Villa-Lobos. Lembro desse dia, o da morte. Numa aula de música, ou arte, ou trabalhos manuais, algo assim, a professora anunciou o acontecimento e, para a criança que eu era, impressionou muito a interrupção da aula pelo desaparecimento de um compositor. Outros tempos.

Também mais para o final do ano, há um aniversário ainda pouco lembrado: os 80 anos de Ricardo Tacuchian, outro compositor carioca. Uma vez dividi um programa da Ospa com ele: era a estreia de Visitações, meu concerto para contrabaixo e orquestra. Logo em seguida, veio a estreia do Concertino para Piano e Orquestra, de Tacuchian, regido pelo próprio. Isso foi em 1983 e desde então ficamos próximos. Basta correr ao Spotify para conhecer Tacuchian. É só buscar Tombeau de Aleijadinho e começam as celebrações que, em música, devem ser assim: ouvindo.

CELSO LOUREIRO CHAVES

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