sábado, 16 de março de 2019



16 DE MARÇO DE 2019
COM A PALAVRA

O BRASILEIRO ESTÁ CONFUNDINDO CONSERVADORISMO COM ATRASO

MÚSICO, 51 ANOS Acaba de lançar seu décimo disco e dirigir seu primeiro filme. Defensor da legalização da maconha, nos últimos meses se tornou uma voz política ativa nas redes sociais.
Marcelo D2 já foi reconhecido como líder do Planet Hemp, uma das bandas mais importantes no processo de reoxigenação do rock nacional durante a década de 1990. Tornou-se célebre ativista da legalização da maconha - chegou a ficar cinco dias preso em Brasília por apologia às drogas. Na década de 2000, passou a ser conhecido pela combinação de hip hop e samba, em discos como o aclamado À Procura da Batida Perfeita (2003). Agora, lançando seu décimo disco em carreira solo, Amar É para os Fortes (que rendeu uma versão em filme, dirigida por ele), não se ofende se alguém o identifica como tuiteiro. Até se orgulha.

- Acho ótimo, porque ali dá para ter um debate direto, claro e consciente, mas também dá para mandar um palavrão e já era - diz o músico, que desde as eleições se tornou figura frequente em discussões políticas, apoiando o então candidato Fernando Haddad e inclusive recebendo uma resposta irônica do agora presidente Jair Bolsonaro.

Nesta conversa, D2 fala sobre música, política, cultura, paternidade, tecnologia, as ameaças de morte que recebe e as relações com Bolsonaro e o PT.

AMAR É PARA OS FORTES É SEU DÉCIMO DISCO E FOI PENSADO QUANDO VOCÊ ESTAVA COMPLETANDO 50 ANOS DE IDADE. ESSE PROJETO PARTIU DE UMA REFLEXÃO SOBRE A VIDA NESSE MOMENTO?

Sem dúvida. Ele veio a partir da necessidade de fechar um ciclo: 10 discos, 50 anos. Eu tinha lançado o Nada Pode me Parar cinco anos atrás e estava bem cansado, não queria mais fazer quase nada, estava a fim de buscar coisas novas. No âmbito musical, tinha duas ideias. Uma delas de fazer uma capa móvel, algo como um gif, que acho que no streaming daqui a pouco vai dar. A outra era fazer um álbum visual. Não é nada novo, Beatles fez isso, Frank Ocean, Beyoncé... Aliás, quando eu estava trabalhando nisso, saiu o da Beyoncé. É que é um caminho natural: nunca se ouviu tanta música como agora, por causa do celular e do streaming, e acho que nunca se viu tanta música, porque o YouTube é muito presente. No meio do processo, comecei a pensar em roteiro, porque o projeto começou a tomar mais forma, mostrando-se mais do que um simples álbum visual.

POR QUE AMAR É PARA OS FORTES?

Em meio a isso, a mãe de uma amiga foi assassinada em um assalto. Na mesma época, o João Velho, filho da (atriz e apresentadora) Cissa Guimarães, escreveu um texto protestando porque o cara que matou o irmão dele (Rafael Mascarenhas) havia sido condenado só a um ano de serviço comunitário, uma pena ridícula. No texto dele há essa frase: "Amar é para os fortes". Naquele momento, o disco todo estava dentro de mim, e eu entendi que essa frase resumia tudo o que eu estava sentindo, que era manter a cabeça erguida, firme e forte no meio dessa guerra que a gente vive. Não ceder à sede de vingança que temos nesses momentos extremos. O (músico) Marcelo Yuka (que morreu em 18 de janeiro) falava muito isto: não podemos confundir justiça com vingança. Há uma situação explorada politicamente, de que a sociedade não tem de incentivar a arte e, em vez disso, tem de incentivar a arma. As milícias substituindo a cultura. É uma resposta fácil quando chegamos num ponto assim extremo de violência.

DIRIGIR UM PRIMEIRO FILME É MUITO DIFERENTE DE LANÇAR O PRIMEIRO DISCO?

O que mais pesou no processo foi a responsabilidade dos 50 anos. Quando você tem 20 e poucos anos, você tem uma arrogância da juventude, faz o que quer fazer e era isso. Tem uma emoção mais crua. Mais velho, a gente tenta fazer uma obra complexa. Queremos inclusive lançar uma exposição no segundo semestre, com imagens do projeto. Fora o fato de que as coisas parecem mais complexas como um todo. O país ficou mais difícil, especialmente para as minorias.

COMO O BRASIL DE 25 ANOS ATRÁS, CANTADO PELO PLANET HEMP, EVOLUIU?

A gente está dando passos largos para trás. Muitas conquistas, não só dos pobres favelados, mas de todas as minorias, mulheres e LGBTs entre elas, estão postas em xeque. O Brasil está confundindo conservadorismo com atraso. Estamos tendo uma onda de pensamento atrasado, e isso nada tem a ver com conservadorismo. Em 2019, estamos vendo esse papo de "se tiver filho gay, tem que matar", "política não é lugar de mulher", "vamos armar a população que vamos ter mais segurança", "dar mais liberdade para a polícia matar"... A polícia no Brasil é a que mais mata no mundo. Se autorizar a polícia a matar fosse parâmetro para terminar a violência, a gente teria um nível de violência baixo. Mas é o contrário. E temos a terceira maior população carcerária do mundo. Prendemos mal, por crimes bestas, jogando pessoas que poderiam ser recuperadas nas cadeias dominadas pelo crime organizado. A Justiça, no Brasil, é superelitista: serve a uma classe rica e para massacrar uma classe pobre. O filme Amar É para os Fortes é sobre isso. Me sinto superabençoado, por sair de uma favela e conseguir construir uma vida digna sem precisar entrar para o crime ou sequer passar por cima de alguém.

VOCÊ DISSE QUE, CINCO ANOS ATRÁS, ESTAVA CANSADO. FOI ESSE CONTEXTO SOCIOPOLÍTICO QUE VOLTOU A MOTIVÁ-LO A CRIAR?

Sim, pesou muito, tive vontade de falar algo. E acho que escrevo melhor quando abordo problemas sociais. Você vai envelhecendo e vai vendo as coisas de maneira diferente, vai sendo mobilizado pelo que acontece ao seu redor. Cara, a cada 23 minutos morre um jovem negro no Brasil. Isso é muito pesado. Como um moleque negro se sente diante dessa estatística? "Eu estou com uma arma na minha cabeça, daqui a pouco sou eu." É isso. Estar em um lugar que tem essa estatística e sair vivo é quase um milagre. De novo o Yuka: ele falava "como vamos pedir para um moleque desses ter paciência, amor, compaixão, se nunca tiveram isso com ele?". Quando a gente fala disso, a gente pensa principalmente nos homens, que são os que mais morrem, mas tem também as meninas, que vão para o subemprego, virar praticamente mucamas modernas. O mundo é ainda mais hostil para com as mulheres.

AMAR É PARA OS FORTES TEM AFROSSAMBA. ESSES PROBLEMAS SOCIOPOLÍTICOS TÊM A VER COM ESSA ESCOLHA ESTÉTICA?

Muito. O disco À Procura da Batida Perfeita foi o que me abriu a cabeça para isso, o fato de que a gente pode falar também com os sons. Tem uma letra minha que eu ainda não lancei que diz isso: "Também se luta com uma canção". Quando lancei o Eu Tiro É Onda (1998), mudei o padrão que consistia em samplear discos antigos. Basicamente era isso. Eu achava uma (cantora) Cláudia cantando "Deixa, deixa..." e sampleava. Eu queria mudar essa fórmula nesse disco, e tinha na cabeça que queria usar tambor, afrossamba. Aí fui buscar os discos desse gênero. Quando comecei a trabalhar nessa sonoridade, vi que estava indo muito próximo do que eu já tinha feito e não ia soar novo. Daí comecei a chamar músicos para tocar comigo. Gravei o disco em 12 estúdios diferentes. Era algo que até me assustava. É que um disco inteiro cabe num pen drive - dizia "vou sair para gravar meu disco", botava um pen drive no bolso e saía de casa. Mas esse pen drive tinha o registro do que fizeram 56 músicos, em 10 faixas. Tudo socado ali dentro. Tem uma frase que eu falo, "assim tocam meus tambores", que vai virar um projeto logo mais, que me levou muito a esse lugar, de buscar na estética do afrossamba o que eu quero dizer. Também é interessante que comecei com tambores, mas acabei percebendo que tem muitos metais nas músicas. Caras como o Moacyr Santos amavam metais. (O disco) Os Afro-Sambas, do Vinicius de Moraes e do Baden Powell, não tem muito; tem mais violão. Mas o afrossamba, o afrojazz, essa música negra, tem metais demais, e você pode observar: muitos músicos que tocam metais, trombone, sax, são negros. Foi onde fui buscar as sonoridades com as quais estou trabalhando.

VOCÊ TEM, ENTÃO, UM NOVO PROJETO, QUE DESTACA O AFROSSAMBA?

Sim. É uma ideia bem embrionária, mas quero mapear os tambores do Brasil. Tambores que vieram da África e tiveram influência... Tem religião. Tem muito a ver com a cultura dos povos de Maranhão, Pernambuco, Bahia, Rio de Janeiro. Estou em uma fase de pesquisa. Vai ser um disco de pesquisa. Mais do que um disco meu, é um projeto de resgate, mesmo. Que, acho, pode virar um programa de TV.

SUA ENTRADA NO TWITTER TAMBÉM FOI POR CAUSA DESSA SITUAÇÃO DO PAÍS?

A minha volta ao Twitter, né? Eu havia saído do Facebook e do Instagram. Resolvi largar. Facebook estava um lixo, todo mundo xingando todo mundo. E isso bem antes das eleições. Não havia conteúdo para mim, e o Instagram é uma coisa fake, poser, uma vida irreal. Estava cansado daquilo, ficar vendo as vidas dos outros. É basicamente o que sempre odiei nos programas de fofoca, "estou em Paris", "estou nas Bahamas". O Twitter eu já tinha abandonado há anos. Resolvi fazer algo mais útil da minha vida do que ficar em redes sociais. Mas aí, um dia, voltei para o Twitter, para conferir o debate político. Eu sabia que o Bolsonaro estava lá. E gostei do que vi. Acho o Twitter ótimo, porque ali há um debate direto, claro e consciente, mas também dá para mandar um palavrão e já era.

FOI UM PENSAMENTO COMO CIDADÃO, NÃO COMO ARTISTA?

Isso. Até tive de sentar com meu empresário. Ele falou que meu comportamento poderia fechar portas.

FECHOU?

Talvez sim. Mas abriram-se outras.

VOCÊ É IDENTIFICADO COM A ESQUERDA E FALA DE AMOR NESSE NOVO DISCO. ASSOCIA A RAIVA À DIREITA?

Minha mãe me falou, uma vez, que ser subversivo, hoje em dia, é amar. A maioria das pessoas está odiando tanto que, quando você fala que ama, você é um subversivo. Fui para o Uruguai há dois anos, encontrei o José Mujica e tive uma aula de humanismo dele. O cara é uma doçura. Foi um bate-papo, fui falar sobre legalização da maconha, ia fazer um vídeo sobre isso, mas a gente falou 10 segundos sobre legalização da maconha e duas horas sobre outros assuntos. Comecei perguntando: "Como a gente pode mudar as leis?". Ele respondeu: "Cara, esquece as leis, se preocupa com as pessoas, quando as pessoas mudarem o pensamento, as leis mudam junto". É interessante isso. A mudança está no sentimento, no amor, nas pessoas.

EM QUE PÉ VOCÊ ACHA QUE ESTÁ A POSSIBILIDADE DE LEGALIZAÇÃO NO BRASIL?

Acho que estamos passando um momento tão difícil, de tanta mentira difundida, inclusive pelo presidente da República, que tenho até medo de uma legalização neste momento. Hoje, com o pensamento que está rolando, é capaz de legalizarmos e colocarmos a distribuição da maconha na mão de uma grande empresa, de cigarros ou farmacêutica, que vai passar a pensar só em seu lucro. Mas a legalização me parece inevitável: o mundo inteiro está indo para esse caminho. Não é se vamos legalizar, mas quando.

AINDA É UMA BANDEIRA DO TEU FAZER ARTÍSTICO?

Há dois aspectos que a gente tem de olhar. Nosso discurso de legalização da maconha não era só sobre a maconha, mas para cutucar o sistema, incomodar o status quo. "Olha só, eu falo sobre maconha!" Queríamos chamar a atenção assim. E ouvíamos: "Quem são esses caras? Chatos, querem democracia demais". A gente tinha acabado de sair de uma ditadura, um momento parecido com o momento que a gente está vivendo agora: muita violência, Estado contra o cidadão, pressão constante de coronéis, de gente que acha que manda no povo e no país porque tem a força. Esse discurso era superpertinente, porque, além de tudo, acreditávamos - acreditamos até hoje - que a legalização diminui a violência. Ou seja, éramos contra o sistema, no sentido de que queríamos chocar, mas com um discurso que tinha um conteúdo social, para além do choque. Hoje esse discurso já não choca tanto: até os Estados Unidos legalizaram. É a gente, país trouxa, de Terceiro Mundo, que fica pregando moral. Tenho certo receio com esse papo de maconha medicinal. A gente viu muito isso na Califórnia, onde as coisas sucederam de maneira diferente do que foi no Colorado. Na Califórnia, a legalização começou com a maconha medicinal, mas acabou que as indústrias farmacêuticas tomaram conta e hoje usam a bandeira da legalização porque querem faturar com ela. No Colorado, ao contrário, começou com a recreação, todo mundo pôde ter planta em casa e tal. Foi outro caminho.

FICOU MARCADA UMA INTERAÇÃO DO PRESIDENTE BOLSONARO COM VOCÊ, QUANDO ELE ESCREVEU, NO TWITTER, QUEM É MARCELO D2?. VOCÊ TEVE ALGUM OUTRO CONTATO COM ELE?

Não. Só aquilo, mesmo. Eu respondi quem eu era, e ele falou: "Seja feliz". Ainda bem. Não quero muito contato.

VOCÊ RECEBE AMEAÇAS?

Há diferença entre ameaça e desejo. Quando o sujeito fala "queria que você morresse", é diferente de "você vai morrer com três tiros na cabeça". Eu recebo tudo. Ameaça, ameaça mesmo, séria, são duas ou três por semana. Outro dia tocou meu telefone de um número desconhecido. Nunca atendo, mas daquela vez acabei atendendo, porque minha filha estava sem bateria e achei que pudesse ser ela, de outro telefone. O cara saiu gritando: "Petralha safado, teus dias estão contados". Perguntei: "Quem está falando?". E o cara desligou. Sabe o que é o pior de tudo? É morrer como petista. Eu não sou petista! Tanta coisa que eu fiz nessa vida, e o cara vai me matar porque sou petista. Se acontecer isso, eu volto para puxar o pé de cada um (risos).

COM FERNANDO HADDAD, VOCÊ INTERAGIU DURANTE A CAMPANHA, NÃO?

Sim, ele me ligou e agradeceu o apoio que dei a ele. Na verdade, eu não estava apoiando o PT. Estava contra Bolsonaro. Mas acho que o Haddad é melhor do que o PT. Já falei isso: ele é bom demais para o PT. Neste momento, o PT tem de olhar para dentro, ver o quanto errou, o quanto foi desonesto, e limpar a sujeira toda dentro do partido. Assumir isso, a própria responsabilidade, a culpa que não é só das pessoas, mas do partido em torno do qual giravam essas pessoas. É responsabilidade do PSL quando o seu presidente fala que lugar de mulher não é na política, entre outros absurdos. O PT tem de assumir os erros, limpar o nome do partido. Acho que o confronto do Haddad com a Gleisi (Hoffmann, presidente do PT) é até interessante, fico torcendo para que ele assuma o partido e mude tudo, ou então saia de uma vez da legenda. É difícil. Mas tem gente boa no PT e em vários partidos. A gente precisa que essa gente boa fique na política.

A POLARIZAÇÃO FAZ COM QUE AS PESSOAS SEJAM CLASSIFICADAS COMO PERTENCENDO A UM LADO OU A OUTRO.

Há uma certa ignorância ou má-fé. As pessoas não enxergarem que há mais do que dois lados. Há um discurso humanista que não é exclusividade do PT. Posso muito bem ter um discurso parecido e não ser petista. Não acho nem que eu seja esquerdista. Quando encontrei com o Mujica, as coisas ficaram mais claras para mim: sou muito mais humanista. A gente tem de se preocupar mesmo é com as pessoas. Se isso é um traço de socialismo, esquerdismo, ok, mas neste momento acho melhor fugir dos rótulos, porque eles engessam o debate, transformam as discussões em uma guerra burra e inútil.

COMO VOCÊ VÊ ESSE INÍCIO DE GOVERNO BOLSONARO E TAMBÉM DE WILSON WITZEL, NOVO GOVERNADOR DO RIO?

O Witzel parece ter o mesmo discurso do governo federal, parece um cabo eleitoral do Bolsonaro. É meter tiro em pobre e calar a boca de todo mundo. Esse tipo de coisa que ambos defendem. Fico impressionado como as pessoas conseguem vibrar com a morte de 13 jovens de 20 e poucos anos (referência à operação policial na região de Santa Tereza, no Rio, em fevereiro). Seja policial ou bandido, são 13 jovens morrendo. Mesmo sendo bandidos, não se trata de uma vitória. Pelo contrário, matar jovens com tiros na cabeça e pelas costas é uma derrota da sociedade. Vender drogas é participar de um negócio. A gente tem de entender que se trata de um esquema muito maior do que a favela. Eles estavam com armas e fuzis, nenhum fabricado no Brasil. Alguém levou para eles. Quem fornece tudo isso? Quem é o verdadeiro traficante? A maconha e a cocaína vendidas na favela não são fabricadas lá. Quem fornece isso? Quem faz isso chegar até eles? Isso não se resolveu com a morte dos 13 jovens. E os helicópteros que carregam a cocaína para cima e para baixo? Não é um filme de faroeste, em que o mocinho está ganhando porque matou mais índios. O problema vai continuar.

VOLTANDO AO AMAR É PARA OS FORTES: COMO VOCÊ FINANCIOU O PROJETO? O DEBATE EM TORNO DO FINANCIAMENTO DA CULTURA TAMBÉM ESTÁ FORTE NO PAÍS NESTE MOMENTO.

Esse é mais um debate que se estabelece graças à ignorância. As pessoas falam da Lei Rouanet como falam da mamadeira de pênis, de kit gay. Não sabem do que estão falando. Incentivo à cultura é importante, e a Lei Rouanet funciona bem. Tem seus defeitos, aqui ou ali, mas é importante. Nesse projeto fui buscar patrocínio de seis empresas que trabalham comigo há muito tempo, não usei nenhum incentivo fiscal. Nenhum. Mas só pude fazer isso porque tenho condição, tenho 25 anos de mercado. E, mesmo assim, mesmo com o filme, o projeto tinha custo baixo. Se não houver incentivo, o cinema nacional vai parar, porque filme de R$ 5 milhões não se banca pela bilheteria no país. Projetos culturais regionais, no Nordeste, no Sul, coisas folclóricas, se não tiver esse tipo de lei, essas coisas vão morrer. 

As pessoas têm mais dinheiro para consumir cultura, mas não vão consumir projeto de dança folclórica, que é importante para o país mas não tem mercado, financeiramente falando. Por isso eu entendo, um pouco, dentro de toda essa ignorância em que estamos mergulhados, por que se põe a culpa no PT: deram TV de plasma e ar-condicionado para certas pessoas, mas agora elas não têm mais condições de ter isso. Acham que precisam de TV de plasma, ficaram acostumadas a isso. Mas não: o que a gente precisa é de cultura e educação. Educação de verdade, não esse tipo de educação "sem ideologia", como dizem, em mais um entre tantos discursos imbecis com os quais temos de conviver atualmente.

GUSTAVO FOSTER

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