segunda-feira, 25 de março de 2019



25 DE MARÇO DE 2019
PERIMETRAL

POA 247 ANOS OS BAIRROS JÁ COMEÇAMA TER IDENTIDADE PRÓPRIA

A coluna elegeu cinco personagens incontestáveis: eles têm a cara de Porto Alegre. De hoje até sexta-feira, o quinteto responde às mesmas cinco provocações, revelando olhares únicos sobre a Capital que amanhã completa 247 anos. Para abrir a série, a escritora Martha Medeiros, 57 anos, moradora do bairro Petrópolis, fala desde a "encantadora luz natural" da cidade até o "descaso com a sinalização urbana".

Um baita lugar e por quê.

O Guaíba, nosso lago desprestigiado que só agora começa a receber mais atenção. Agilidade nunca foi nosso forte, eu sei, mas está mais do que na hora de assumirmos nosso potencial náutico e de curtir o Guaíba para além da contemplação do pôr do sol. Investir em sua despoluição, preservar a natureza em torno da orla, resolver a questão do muro. Comecei recentemente a praticar stand-up paddle e ganhei uma cidade novinha em folha, descobri outros perfis da Capital e outro astral.

Não tem mas deveria ter.

Sendo nostálgica: um amigo inglês esteve aqui e achou que Porto Alegre tinha um ar de San Francisco (EUA) por causa de seu relevo, as subidas e descidas - logo me lembrei dos nossos saudosos bondes, fico imaginando o charme que dariam hoje à cidade. Mas o que eu queria mesmo era metrô, pena que não será nesta encarnação, nem na outra.

O melhor daqui.

Porto Alegre é bastante arborizada. E é uma cidade colorida, tem uma luz natural encantadora, principalmente nesta época do ano. Além disso, temos alternativas culturais variadas, o Em Cena, o Porto Verão Alegre, a Feira do Livro, a Festipoa, o Fronteiras do Pensamento e outros tantos eventos. Já não estamos "longe demais das capitais" como antes. E os bairros começam a desenvolver identidade própria, a investir em cultura local e em diversidade, a exemplo da Cidade Baixa, Floresta, a revitalização do Quarto Distrito... Fico animada com esse movimento.

Tem de resolver logo.

Certamente há demandas sérias nas áreas de educação, saúde e segurança, mas, para citar algo irritante no dia a dia, elejo a ausência de placas indicativas dos nomes das ruas, que deveriam existir em todas as esquinas. O descaso com a sinalização urbana é assombroso. Acho, também, a cidade mal iluminada à noite. E damos pouco valor ao bom atendimento. Funcionários que lidam com clientes são displicentes e mal informados - é uma generalização, claro, há muitas exceções, mas, se quisermos ser uma cidade cosmopolita, não dá para continuarmos tão blasés.

A cidade em 2029.

Imagino que o cais do porto se tornará uma região vibrante da cidade, que o Mercado Público estará plenamente reconstruído, que voltaremos a ter livrarias de bairro, que as ciclovias funcionarão como estímulo para se deixar o carro em casa, que a Feira do Livro continuará firme e forte na Praça da Alfândega, que o Centro será um lugar mais aprazível para se trabalhar e se divertir, que o Multipalco estará concluído como dona Eva sonhou e que o meu otimismo permanecerá tinindo.

MARTHA MEDEIROS, ESCRITORA

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