terça-feira, 19 de março de 2019



19 DE MARÇO DE 2019
DAVID COIMBRA

A música de "Nasce uma Estrela"

Nova York está infestada por ratos. Ratazanas bem fornidas, cevadas do lixo luxuoso da Big Apple. Tempos atrás, havia brigadas de moradores que saíam às ruas com seus cães, durante a noite, para caçá-los. Há ratos nos prédios de apartamentos, nos restaurantes e, sobretudo, no metrô - vi cenas de uma ratazana de bom tamanho escalando o peito de um homem que dormia em um vagão. O cara acordou com o bicho montado em seu nariz. O que me faz pensar, naturalmente, obviamente, evidentemente, na mulher mais bonita do mundo.

Por quê? Explico.

Quem é a mulher mais bonita do mundo? Irina Shayk, talvez? Você sabe quem é Irina Shayk: uma modelo russa com a pele da cor do melaço, pernas longas de gazela e olhos azuis cintilantes, casada com o ator Bradley Cooper.

Assisti ao filme de Bradley com Lady Gaga, Nasce uma Estrela. Achei meio aborrecido. Nem as músicas me empolgaram. Sei que as mulheres estão encantadas com o desempenho de Bradley no filme, sei bem disso, a Marcinha, a Cris, a Greice, a Ana Paula, todas se emocionaram com Nasce uma Estrela, mas eu não. Ah, não!

Essa história já foi filmada outras três vezes por Hollywood. Na penúltima, nos anos 1970, Barbra Streisand e Kris Kristofferson são os protagonistas. Ela interpreta, com pequena participação dele, a canção Evergreen, muito acima das que embalaram o filme atual, inclusive Shallow, que Bradley e Gaga cantaram juntos no Oscar e que não para de tocar nas rádios americanas.

As pessoas falaram muito dessa apresentação no Oscar. Da forma como Bradley olhou para Gaga, da forma como Gaga olhou para Bradley. Pareciam apaixonados. Uma revista de fofocas americana publicou na capa, nesta semana, uma foto de Gaga sob o título: "Ela está grávida, mas quem é o pai? Bradley?". Será que ele estaria traindo a mulher mais bonita do mundo?

Claro que não. Eles são atores! Ah, bem sei que mesmo atores acabam se envolvendo em meio ao trabalho - toda aquela história de beijo técnico e tal. Não os censuro. Pense no caso recente do Zé Loreto, que é OBRIGADO a passar o dia acariciando, afagando e apalpando Marina, ruiva Marina, Ruy Barbosa. Por mais profissional que seja, é normal que, vez em quando, ele se sinta mais entusiasmado com a tarefa. Até que ponto vai o entusiasmo? Depende da força de vontade e do controle de cada um. No caso de Bradley, não me passou a impressão de nada mais grave do que um estrito exercício de interpretação. Além disso, sua mulher é Irina, morena Irina.

Irina, você olha para as imagens dela e pensa: ela é doce, ela tem leite condensado correndo nas veias e sua pele deve trescalar a crème brûlée. Mas sabe por que penso assim? Porque Irina pouco fala nas redes sociais. Ela desfila, ela anda, ela posa para fotos. Mas falar, não fala. Outras mulheres, lindíssimas, ouço-as falando e me dá uma tristeza? É uma platitude, um sensabor... Merecem a trilha cantada por Bradley e Gaga: "In the shallow, in the shallow". Elas nunca passam da superfície. A gente se desilude e elas acabam ficando comuns.

Mas o processo inverso também acontece: algumas mulheres que não são tão exuberantes tornam-se atraentes quando falam. Exemplo? Marília Gabriela. Não que seja feia. Não é. Apenas não se trata de um padrão internacional de beleza. Só que, no momento em que ela se expressa, sua inteligência vibra junto com a voz e você fica mesmerizado. Marília, falando, é uma rainha.

Dizem que Cleópatra tinha uma voz assim profunda e uma mente tão profunda quanto, mas como haveremos de saber? Há uma outra, porém, da qual sabemos. Uma que antecedeu Irina, morena Irina. Ela é? Mas, espere, ainda nem expliquei por que os ratos me levaram à mulher mais bonita do mundo. Terá de ser amanhã. Aguarde.

DAVID COIMBRA

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