sexta-feira, 1 de março de 2019



Dinheiro 

Desde os tempos em que não havia dinheiro e as pessoas apenas trocavam mercadorias entre si, até chegarmos às moedas virtuais e bitcoins da atualidade, o caminho foi longo e o surgimento dos primeiros bancos foi determinante. O dinheiro, em conjunto com o amor, o sexo e o poder, sempre simbolizou o que mais interessa aos humanos. A espiritualidade e as religiões igualmente figuram nos interesses essenciais. 

Os autores de best-sellers e filmes de sucesso sabem disso melhor do que ninguém e trabalham com enredos e situações que envolvem relações amorosas e familiares, enriquecimentos e perdas de fortunas e o sobe e desce próprio das arenas políticas, onde os poderes e os poderosos se repetem e nos mostram que ao fim e ao cabo os gregos e romanos já sabiam de tudo. Dá para dizer que, hoje, o dinheiro manda mais no mundo do que antes. Numa época com poucas referências de pessoas, ideologias e esperanças, e num momento em que a gurizada adora uma distopia, o vil metal ficou ainda mais determinante e muitas vezes é tudo "dinheiro pelo dinheiro". 

Os poemas de Carlos Drummond de Andrade sobre Itabira e seus metais dão muito menos Ibope do que a fome de lucros das empresas mineradoras, que por vezes provoca desastres. "Poderoso caballero es Don Dinero", disse Francisco de Quevedo. "O dinheiro compra até amor verdadeiro", escreveu nosso gênio Nelson Rodrigues. Hoje, no mundo, o dinheiro está ainda mais concentrado em pouquíssimas mãos e um dos desafios da humanidade é justamente dividir melhor o bolo e ter um planeta com mais igualdade. 

O ser humano segue em busca de ter dinheiro e esperar que isso o torne feliz. "O dinheiro é um bom empregado, mas um mau patrão", ou "o dinheiro é um bom escravo mas um terrível senhor" são frases que mostram que, há séculos, os humanos tentam mandar no dinheiro e não deixar que a grana mande neles. Não é fácil, nunca foi e provavelmente não será, mas a busca de equilíbrio entre o "ter" e o "ser" precisa continuar. 

Bom lembrar que ninguém é eterno, que estamos na terra e não somos a terra e que caixão não tem gaveta. Se você pedir para botarem tua fortuna no caixão, algum gaiato vai deixar um cheque ou um cartão de crédito no bolso da última roupa, bem como na velha e boa piada. A felicidade, a serenidade e a paz na maior parte do tempo estão em pessoas, momentos e situações que muitas vezes não necessitam de grandes verbas e produções. Para se sentir feliz no domingo à noite, a família, os amigos, uma música, cerveja, refri e pizza bastam. 

O consumo desenfreado, a angústia pela próxima compra e os desejos intermináveis por tantas coisas e por tanta e ilimitada sapiência decididamente mostram que a pessoa pode não se sentir bem mesmo depois de comprar aquele relógio suíço que custa R$ 3,5 milhões - tipo assim, três Ferraris. As pessoas e os governos ainda vão encontrar formas de distribuir melhor as riquezas. Alguns ganhadores de Prêmio Nobel pensam nisso.   

A propósito... 

É Carnaval. Se alguém pedir um dinheirinho, dá, senão o cara vai beber até cair. Se ele pedir um dinheirinho para "beber com moderação", dá, que é Carnaval. Esse ano, o Brasil já começou bem antes do Carnaval. Bom tomar umas para comemorar as esperanças, segurar as notícias ruins e para esquecer, ao menos por um tempo, esses lances complicados de dinheiro.

 "Quem tem dinheiro se incomoda por que tem, quem não tem, se incomoda porque não tem", ensinou a Dona Célia, no auge dos 93 anos. Dinheiro na mão é vendaval, como na canção, mas pode ser vida, liberdade e coisas boas. Não esqueça do lema da caderneta de poupança de um certo país da Europa - "nunca gaste tudo!" Outra hora falo de poupança interna. 

Agora melhor poupança externa na avenida. - 

Jornal do Comércio (https://www.jornaldocomercio.com/_conteudo/colunas/livros/2019/02/672073-entre-o-amor-e-a-liberdade.html)

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