sábado, 16 de março de 2024


16 DE MARÇO DE 2024
FLÁVIO TAVARES

O filme Oppenheimer, ganhador do Oscar, a maior láurea do cinema mundial, retrata uma época de esplendor científico que aterrorizou o mundo. Alfabetizei-me lendo as notícias dos jornais sobre a Segunda Guerra Mundial e, ainda pré-adolescente, acompanhei os festejos do mundo ocidental quando os Estados Unidos lançaram bombas atômicas sobre Hiroshima e Nagasaki, levando o Japão a capitular.

O filme narra a vida de Robert Oppenheimer, o físico que dirigiu o programa nuclear dos EUA. Naquele agosto de 1945, todos festejamos a destruição do poderio militar japonês que pôs fim à guerra no Oceano Pacífico. Eu próprio fiz um versinho que, lembrando o ataque surpresa do Japão à base dos EUA em Pearl Harbour, dizia: "Clamam todos, todos/ Pearl Harbour foi vingado/ e vingadas hão de ser/ todas as forças do Mikado".

Na ansiedade de que a guerra terminasse, não percebemos que a bomba atômica anunciava um perigo devastador à própria humanidade. Festejávamos a paz, sem entender que - daquele momento em diante - o átomo transformado em bomba nos levaria a antecipar o Apocalipse da Bíblia.

É disto que o filme trata ao narrar a vida de Robert Oppenheimer. Ele próprio aparece praticamente arrependido (ou em dúvida) por ter dirigido algo com o qual a insânia da política poderia destruir o mundo e a vida. E a política é incontrolável e destituída de ética.

Anos depois de aplaudido por ter antecipado o fim da guerra com o Japão, Oppenheimer é submetido a humilhantes interpelações no Senado dos EUA, acusado de "comunista" em plena Guerra Fria com a Rússia soviética. De herói, passava a reles "traidor".

A acusação maior baseava-se no fato de que a esposa fora comunista na juventude e que a amante continuasse como militante do Partido Comunista. O próprio Oppenheimer admitiu ter tido simpatias pelos comunistas antes da Segunda Guerra, quando não se conheciam os crimes de Stalin.

A vida de Oppenheimer reaparece agora quando Putin ameaça utilizar a bomba atômica na guerra contra a pequena Ucrânia. Indago: será o triunfo da infâmia? Ou a História só se repete como farsa? Na ansiedade de que a guerra terminasse, não percebemos que a bomba atômica anunciava um perigo devastador à própria humanidade

Jornalista e escritor - FLÁVIO TAVARES

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