terça-feira, 12 de março de 2024


12 DE MARÇO DE 2024
CARPINEJAR

Nobre tentativa

Todos nós temos caixinhas de medicamentos em casa. Quanto maior a nossa idade, mais colorido e variado o conteúdo de fármacos. Os excedentes são guardados como tesouros nos armários do banheiro ou da cozinha, para acudir uma recaída ou uma reincidência.

Sempre sobra uma cartela que extrapolou a quantidade solicitada da receita. Conservamos os produtos fingindo que nosso lar é uma enfermaria, um ambulatório, jurando realizar um grande negócio, uma economia futura, para o caso de uma nova urgência que jamais acontece dentro da data de validade.

Na maior parte das vezes, os remédios caducam, prescrevem silenciosamente. Para combater o desperdício, quem nunca cogitou doar seus remédios? Ajudar as pessoas com esses antídotos parados, antibióticos abandonados pela metade, que costumam ser caros?

Infelizmente, não existe a possibilidade de extensão automática do benefício, ainda que a nossa intenção seja nobre e solidária. Fui informado pela Coordenação de Assistência Farmacêutica da Secretaria de Saúde de Porto Alegre.

Não há como transferir o estoque inativo para ONGs ou amparar diretamente os mais necessitados com aquilo que não usamos. Existe até o Decreto Federal 10.388, de junho de 2020, que regulamenta a Política Nacional de Resíduos Sólidos (PNRS) e não permite o repasse de medicação.

A cautela é de ordem prática: você estaria garantindo o medicamento, mas não a sua segurança e eficácia. Como saber que o armazenou adequadamente? Poderia colocar um paciente em risco.

Remédio possui duração frágil, facilmente ameaçada. Remédio não se partilha. Por isso, a receita é individual. Por mais que alguém sofra de problema ou doença semelhantes aos seus, você nunca terá certeza de que ele ainda surte efeito, de que o preservou de acordo com as exigências de temperatura e umidade.

Devemos, então, dirigir os nossos esforços para a preservação ambiental. Lembre-se do perigo de contaminação se descartar um medicamento domiciliar vencido ou em desuso no lixo comum. Inclusive as embalagens contêm resíduos impróprios.

Ao parar de usar o remédio, já é o momento de confiá-lo às autoridades competentes. Não deixe para depois. É um favor que presta ao ecossistema. Não arcará com despesas ou grande trabalho de pesquisa. Há um site de coleta destinado para essa função. Escolha o ponto mais próximo de sua residência. São dezenas de farmácias autorizadas na Capital. A lista está disponível em: https://logmed.org.br/pontos-de-descarte-25-01-2024.pdf.

O processo é chamado de logística reversa. O medicamento descartado pelos consumidores retorna ao seu ponto de partida de produção e distribuição, para ser avaliado e ter o seu refugo final ecologicamente correto. O mesmo cuidado que despendemos às pilhas e baterias, para não poluir o solo, temos que oferecer ao nosso pronto-socorro doméstico.

A conscientização ambiental é também generosidade, consigo e com os outros.

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