segunda-feira, 18 de março de 2024


18 DE MARÇO DE 2024
CARPINEJAR

Antídoto contra o bullying

Qual é o antídoto contra o bullying? A amizade. Só a amizade traz o entendimento do sofrimento do outro.

Deveríamos fazer uma campanha para incentivar a amizade nas escolas em vez de combater diretamente o bullying. Perto de inspirar os laços, reprimir o comportamento é placebo.

Hoje é cada vez mais raro estabelecer amizades sinceras e duradouras durante a instrução escolar. As turmas não mais terminam o Ensino Fundamental juntas como antes. A cada ano, o elenco muda. Afora o fato de que o celular tornou-se um elemento desagregador no recreio, monopolizando a atenção que se destinava para a conversa.

Colegas dividem a sala de aula sem nunca se conhecer de verdade. O distanciamento cria espaço para a discórdia, para a hostilidade, para a implicância, já que a convivência passa a ser baseada apenas na aparência. Abrem-se condições para uma disputa mental de quem tem mais e quem tem menos, de quem fala mais e quem fala menos, de quem se veste melhor ou pior. Não ocorre a cumplicidade afetiva capaz de transpor fronteiras sociais e ideológicas em nome da essência humana.

Quando você é amigo de alguém, você toma suas dores, protege suas fraquezas, defende seus pontos de vista. É uma transfusão diária de coragem. Não existirão diferenças de comportamento que culminem no deboche e na exclusão.

O grande problema educacional é que a escola deixou de ser família. E a família deixou de ser família. Não há mais família em parte alguma.

Cada estudante cresce por sua conta e risco em sua raia, em sua mesinha, em seu quarto fechado, não mais com práticas ostensivas de interação.

A fixação de turma é decisiva para a coexistência pacífica, com a virtude de conferir à criança uma identidade de tribo, de grupo, um conforto para não se sentir sozinha.

O governo do Estado, via Secretaria da Educação, precisa apostar alto nos Jogos Escolares do Rio Grande do Sul (Jergs), campeonatos esportivos anuais entre as escolas públicas que contemplam variados perfis, dos intelectuais (xadrez) aos apaixonados pelas competições físicas (atletismo, basquetebol, bocha paralímpica, futsal, handebol, tênis de mesa, voleibol).

Além de destacar os primeiros lugares na competição com as medalhas e os troféus, como já acontece, o evento poderia oferecer uma premiação à parte para as melhores torcidas e instaurar ainda um prêmio que extrapole a performance individual, que represente um investimento para a qualificação da escola do atleta: incremento da biblioteca, reforma de setor carente, informatização do sistema.

Os vencedores melhorariam o ambiente escolar, experimentando a famosa condição de benfeitores e de filantropos, com seus exemplos convertidos para uma causa em benefício de todos.

Defender a escola é o princípio da agregação. O aluno veste um uniforme em comum, trabalha em equipe, encarna um objetivo colaborativo, começa a obedecer a regras e entende a importância da disciplina para alcançar o sucesso.

É o fim do isolamento, das ilhas de agressão e das panelinhas intimidadoras.

No lugar de encontrar inimigos nas próprias trincheiras, o estudante se alia a quem está ao lado para enfrentar os demais colégios. A rivalidade saudável com agremiações externas põe um ponto final na desconfiança dentro da instituição.

Para quem não gosta de esporte e prefere desafios de lógica, dedução e expedição, as gincanas ocupam um papel fundamental para a partilha de tarefas, evidenciando os talentos de cada um e aproximando os pais e parentes na solução de charadas e enigmas. É uma mobilização da comunidade em torno da escola, por um ideal coletivo.

Estamos viciados no problema, imersos na espiral de violência, e não enxergamos a solução escancarada em nossa frente.

CARPINEJAR

Nenhum comentário:

Postar um comentário