sexta-feira, 8 de março de 2024


08 DE MARÇO DE 2024
ARTIGOS

8 DE MARÇO: PODEMOS COMEMORAR?

Neste mês, em especial, nesta semana de março, recebemos inúmeras ofertas, descontos, presentes, todos alusivos ao Dia Internacional da Mulher. Muitas rosas são distribuídas, nos mais diversos espaços. Contudo, vale questionar: o que podemos comemorar?

Infelizmente, encerramos os primeiros 30 dias de 2024 com um aumento exponencial no número de feminicídios no Rio Grande do Sul. Conforme levantamento de Zero Hora, 12 mulheres foram vítimas de feminicídio no referido período - uma morte a cada dois dias e meio. Mulheres cruelmente assassinadas por companheiros e ex-companheiros: tiros, asfixias, facadas, espancamentos. Já no mês de fevereiro, os números foram os mesmos de 2023: seis mulheres perderam a vida por feminicídio. Quantas mais até dezembro?

Discursos fomentados com veemência nos últimos anos, têm "armado a população" em nome da honra e do direito à defesa própria. Atira-se primeiro, conversa-se depois! Diálogos, contrapontos, divergências? Não! Tais discursos banalizam a violência e, por conseguinte, suas consequências: agredimos desconhecidos nas redes sociais, no trânsito, nas calçadas, ao receber um lanche por aplicativo. Colecionamos desafetos desconhecidos por causas ínfimas.

Como professora que já atuou na Educação Básica e hoje pesquisadora do tema, compreendo que alia-se a esse "estopim", entre outras razões que extrapolam os limites do presente texto, o silenciamento das discussões de gênero nas escolas - as quais não visam falar sobre o uso dos banheiros (apenas), mas sim sobre a valorização de todas as formas de existência. 

Discutir gênero, de modo especial, problematiza modos de ser e de viver de homens e mulheres ao longo dos tempos, em diferentes sociedades; a sobrecarga nas tarefas domésticas e no exercício da maternidade entre as mulheres; a impossibilidade de visibilizar sentimentos e fragilidades entre os homens. Tais ações não são naturais, tão pouco biológicas - estão ancoradas em práticas discursivas que não fazem mais sentido no século 21. Os números denunciam que um dos efeitos de tais práticas têm sido a naturalização da violência sobre as mulheres. Até quando seremos vítimas de nossa existência?

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