quinta-feira, 8 de agosto de 2019


08 DE AGOSTO DE 2019
INFORME ESPECIAL

Os esquecidos na polêmica sobre a pista do Salgado Filho


Existem 240 famílias que poderiam sair do meio do lixo para viver em casas dignas, mas que foram impedidas: são as maiores vítimas de uma polêmica que envolve o MP, o Judiciário, traficantes de drogas e uma empresa alemã. Uma medida judicial, atendendo à solicitação do Ministério Público Federal, suspendeu a transferência de centenas de pessoas que hoje moram em uma área invadida e de fundamental importância para ampliação da pista do Salgado Filho. Todas querem sair de onde estão, mesmo que, publicamente, com medo das ameaças dos bandidos, não possam admitir com tanta veemência.

É notório que muitas das dificuldades da remoção são vinculadas ao poder do tráfico, que não quer perder espaço na região. Há também a necessária cautela da Justiça, que cumpre prazos e ritos em uma questão delicada. Mas não há justificativa ética e humana que explique a suspensão da transferência das famílias que hoje vivem em condições sub-humanas para as novas casas. Uma coisa não impede a outra. Alçá-las a um novo grau de dignidade não invalida qualquer discussão em relação à responsabilidade sobre os custos.

A Fraport não vai embora da Capital tão cedo, a não ser que continuemos nos esforçando para expulsar uma parceira que tem seus legítimos interesses econômicos, mas que fez o que muitos gaúchos não fizeram: apostou alto no desenvolvimento do Estado. Só em obras de drenagem que favorecem não só o aeroporto, mas toda a região, a empresa investiu R$ 170 milhões, mesmo que isso não fizesse explicitamente parte do contrato.

O que se pede nesse caso é apenas bom senso. Deixar que mais famílias se mudem - 120 já o fizeram - e, se for o caso, discutir qualquer questão na Justiça, mas sem prejudicar ainda mais quem já é prejudicado ao extremo pelo abandono e pela atrofia muscular do Estado.

A ampliação da pista do Salgado Filho é uma obra estratégica para o RS. Hoje, nosso aeroporto não comporta operações com cargas elevadas, o que sufoca a competitividade da nossa economia. Não se trata apenas do lucro das empresas - contra os quais anda existem preconceitos bolorentos e oportunistas -, mas sobre geração de empregos, impostos e até mesmo de fluxo turístico para o RS. A discussão sobre responsabilidades é válida e necessária, mas não é justo que a maior parte da conta seja paga, mais uma vez, por quem não tem sequer um local digno para morar.

TULIO MILMAN

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