quinta-feira, 1 de agosto de 2019



OPINIÃO DA RBS

UM PRESIDENTE SEM LIMITES

Quando se espera que nenhuma nova declaração de Jair Bolsonaro possa surpreender ainda mais, o presidente volta a se superar. Desta vez, não pelo conteúdo estapafúrdio de suas frases. O atordoante, agora, é a posição de manter-se firme na postura de não refletir sobre o seu destempero verbal. Infelizmente, o homem eleito por 57,7 milhões de votos para tirar o Brasil da crise que parece crônica segue demonstrando preocupantes dificuldades de compreender que não é radicalizando ainda mais que vai construir um país melhor para todos os brasileiros. Não parece ser apenas teimosia ou inabilidade.

A lamentável e cruel afirmação de que sabe como morreu o pai do presidente da OAB - coroando uma sequência alucinante de estultices diárias -, sustentando uma versão desmontada pelos próprios agentes da repressão, mostra como o presidente vive em uma espécie de mundo paralelo. De forma desumana, Bolsonaro reavivou inutilmente uma discussão sobre o passado, em um momento em que o país precisaria estar olhando para o futuro.

O presidente, com sua inépcia em construir pontes, reabriu feridas com afirmações que só os mais fanatizados levam a sério. Quando seria necessário elevar o nível do debate e dar prioridade a temas como reformas estruturantes, para a retomada do desenvolvimento, Bolsonaro enche o país de dúvida sobre se há, na mente presidencial, um mínimo resquício de aflição sobre os problemas reais do Brasil, enquanto a economia está parada e mais de 12 milhões de pessoas procuram desesperadamente emprego. É preciso que o país racional, composto inclusive por alguns membros de sua equipe e do Congresso, não perca o foco no que realmente importa.

Todos os erros de gestão e desvios cometidos pelo PT não justificam o tornado de sandices e a fixação em temas ideológicos, que nada edificam. As críticas ao comportamento de Bolsonaro, aliás, não se resumem mais à esquerda. O exdeputado vem perdendo o apoio do eleitorado de centro, decisivo para a sua eleição. E agora, como mostram as repercussões do mais recente disparate, vê minguar seus defensores até em setores que se reconhecem de direita, mas repudiam a agressividade obtusa e gratuita.

Bolsonaro caminha em uma direção perigosa. Se é cada vez maior o desconforto que gera inclusive em seus aliados, corre o risco de acabar sozinho no poder. O grave é que, ao perseverar orgulhosamente no erro, como afirmou que fará, não está colocando apenas a sua posição em risco. A instabilidade política reacesa será uma tragédia para os brasileiros.
OPINIÃO DA RBS

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