sexta-feira, 2 de agosto de 2019



02 DE AGOSTO DE 2019
+ ECONOMIA

Guedes acena com alívio a empresas e é aplaudido de pé

Já na apresentação do ministro da Economia, Paulo Guedes, à plateia de 1,8 mil pessoas no Teatro Feevale em Novo Hamburgo, ontem à tarde, ficou claro o clima de aprovação. O aplauso foi tão intenso que o ministro pôs a mão no coração e se curvou, como um pop star. Como sinalizou mais alívio para empresários, que formavam boa parte do público, foi aclamado de pé ao final da palestra de uma hora e 20 minutos a convite do Grupo Sinos. Não contou novidades, mas deu dicas sobre próximos passos. Empresários que participaram de almoço com Guedes relataram que ele foi genérico na fala reservada.

Menos encargos

Um dos primeiros recados foi "no futuro, vamos ter regimes trabalhista e previdenciário diferentes dos atuais". Guedes mencionou mudança nas normas regulamentadoras (NRs) feita pelo secretário da Previdência e do Trabalho, Rogério Marinho, e a MP da Liberdade Econômica, iniciativa do gaúcho Paulo Uebel, secretário de Desburocratização, Gestão e Governo Digital.

Acenos ao Congresso

Várias vezes, Guedes fez afagos ao Congresso, depois da crise que abriu com comentários duros ao primeiro relatório da reforma da Previdência apresentado na comissão especial da Câmara. Disse que a instituição está "mais madura", que não houve toma lá dá cá na aprovação da reforma e que só teve "conversas republicanas" com parlamentares.

- Não tenho enfrentado problemas. Além das primeiras escaramuças, o que recebi em Brasília foi apoio.

Novas reformas

Ao comentar as distorções no sistema tributário, Guedes observou que "tem gente que prefere entrar na Justiça do que pagar imposto". Ponderou que o governo apresentará em breve a sua proposta de reforma tributária - há duas já em discussão, uma na Câmara, outra no Senado:

- Temos de reduzir a alíquota para todos pagarem, mas todos pagarem mesmo.

Pacto federativo

Uma das obsessões do ministro, o "dinheiro carimbado" nos orçamentos públicos (percentuais obrigatórios para educação e saúde, por exemplo) deve ser extinto com o pacto federativo, que vai propor para "desvincular, desindexar e desobrigar" em até três anos:

- Vamos descentralizar recursos mas também as responsabilidades. Depois disso, ajuda federal só em caso de catástrofes naturais, que o Brasil não tem.

Abertura comercial

Pelo relato de Guedes, um secretário de Comércio dos EUA não vinha ao Brasil havia anos. Nesta semana, o atual ocupante do cargo, Wilbur Ross, esteve em Brasília, atraído pelo fechamento do acordo entre Mercosul e União Europeia.

- Estamos nos entendendo e certamente haverá integração, com Europa, EUA. Depois vem o Efta (Noruega, Suíça, Islândia e Liechtenstein).

Privatizações

Guedes voltou a afirmar que, se depender dele, serão privatizadas todas as estatais em dois ou três anos:

- Não vou levar, mas essa é a beleza da democracia, não leva tudo, mas leva uma parte.

"Mesmo sem chegar à ponta, corte estimula"
Responsável por implantar, em 1999, o regime de metas de inflação, principal instrumento usado pelo Banco Central para definir o juro, Sérgio Werlang, hoje assessor da presidência da FGV, exasperava-se com a demora na redução da taxa. Além de prever que a Selic deve chegar a 5% até dezembro, o economista avalia que o BC pode e deve cortar o recolhimento de depósitos compulsórios.

O juro já deveria ter caído?

Estou falando que era preciso reduzir desde fevereiro.

Por quê?

A atividade econômica desacelera, a expectativa de inflação está contida. Não consegui entender por que o Banco Central não diminuiu a taxa, não tem razão para diminuir. O canal pelo qual a taxa de juro afeta a inflação é fazendo com que a atividade econômica desacelere. Isso já estava ocorrendo.

A preocupação sobre a diferença de juro entre EUA e Brasil ajuda a explicar a demora?

A atividade econômica está desacelerando claramente, então, juro de 6,5% estava acima da taxa neutra, estávamos nesse patamar desde maio de 2018. Na verdade, desde antes, mas desde maio de 2018, o BC menciona que era uma taxa estimulativa. Obviamente, não é, então tem de baixar mais.

Economistas dizem que se o juro brasileiro for muito baixo, deixa de atrair capital externo, por ter maior risco...

Não é determinante, dinheiro bom entra para bolsa, para investimento direto, esse dinheiro de renda fixa é mais arisco. Não é que não seja bom, entra rápido e sai rápido, é mais volátil.

Se mira o crescimento, o BC avança para um modelo americano, de duplo mandato?

O sistema de metas para inflação diz com clareza que o foco é inflação sob controle, expectativas ancoradas, pronto. Se não tem crescimento, não tem pressão inflacionária, pelo contrário, está decrescendo, então tem de cortar o juro, isso é meta de inflação.

O que esperar deste novo ciclo de queda do juro?

O BC deveria fazer dois cortes de 0.5 ponto percentual mais um de 0,5 ou dois de 0,25, no total um ponto e meio.

O que fazer para que o corte chegue à ponta do crédito?

A Agenda BC+ é fundamental para isso. Mas mesmo que não chegue à ponta, o corte estimula a economia. Tem várias remunerações ligadas à Selic. O corte não chega para consumidores de maior risco, mas com certeza chega para empresas com empréstimo atrelado ao CDI, Se cai a Selic, cai o CDI. Um corte pequeno pode até não chegar aos consumidores, mas se for razoável, chegará sim à ponta, mesmo aos consumidores de maior risco. Se passar a reforma da previdência, a economia entra em outro caminho, fiscalmente sustentável, isso muda substancialmente a situação. Vai diminuir muito o risco e a volatilidade do mercado.

Cortar os depósitos compulsórios, como chegou a anunciar o ministro Paulo Guedes, pode ser uma forma de acelerar a redução do crédito?

Dá para fazer, sim, pode ser até de uma vez só, não tem necessidade de manter o nível atual de compulsório. Estamos com muita capacidade ociosa, tem pouquíssimo risco de ter de reverter a liberação.

E por que não foi feito? Havia necessidade de esperar pela reforma da previdência?

Seguindo a lógica, deveria ter ocorrido lá atrás, quando tinha menos chance ainda de a reforma ser aprovada. Então, não consigo entender esse raciocino de que tem de esperar a reforma passar.

MARTA SFREDO

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